Ah, o Bitcoin (BTC). A ovelha negra do sistema financeiro, a cria rebelde da tecnologia que prometeu descentralizar o mundo e, no meio do caminho, virou o novo brinquedo preferido dos magnatas de terno e gravata que juravam odiá-lo.
Enquanto alguns como Michael Saylor o defendem com fervor quase religioso, outros preferem criticá-lo em entrevistas, painéis e redes sociais – para, logo em seguida, embolsar lucros gerados pelo cripto número um, mesmo que indiretamente. Sim, estamos falando do seleto clube dos influentes que juram que o BTC é uma fraude, mas que adoram a parte em que ele enche suas contas bancárias. Hipocrisia? Talvez. Lucrativa? Com certeza.
Peter Schiff: o crítico de ouro que minerou Ordinals
Peter Schiff, conhecido por ser mais ouro que o próprio ouro, não perde uma chance de lembrar ao mundo que o Bitcoin é, em suas palavras, “um castelo de cartas digital”. Em entrevistas, ele soa como se estivesse salvando a humanidade de um culto apocalíptico. Mas em 2023, num gesto de brilhante contradição, ele lançou uma coleção de NFTs chamada Golden Triumph – na blockchain do Bitcoin. Sim, exatamente aquela mesma tecnologia que ele tanto detesta. Algumas peças chegaram a ser vendidas por mais de US$ 18 mil cada.
A ironia aqui é quase poética: Schiff usou o mecanismo de Ordinals, uma espécie de tatuagem digital na blockchain do BTC, para vender algo que, segundo ele mesmo, não tem valor algum. Como um vegetariano abrindo uma churrascaria gourmet, ele parece confortável em lucrar com aquilo que considera impróprio. A desculpa? Ele não está vendendo Bitcoin, está vendendo arte digital. Claro, porque a blockchain é só um detalhe técnico irrelevante.
Schiff insiste que não possui BTC. E isso, aparentemente, basta para manter sua consciência tranquila. “A escassez dos ativos é o que os torna valiosos”, disse ele, com um brilho nos olhos que poderia ser confundido com entusiasmo cripto. Ou talvez fosse reflexo das cifras em sua conta bancária após as vendas.
No fim das contas, Peter Schiff nos mostra que você pode passar anos cuspindo no prato do Bitcoin – contanto que, um dia, você decida servi-lo como um sofisticado jantar de gala. Afinal, coerência é superestimada quando os lances estão em alta.
Jamie Dimon: o banqueiro que odeia, mas aprova
Jamie Dimon, CEO do JPMorgan Chase, adora chamar o Bitcoin de “fraude” e “ouro de tolo”. Ele faz isso com tanta convicção que até parece pessoal, como se o BTC tivesse flertado com a esposa dele. O problema é que, enquanto Dimon critica em público, seu banco está ocupado criando produtos de investimento em Bitcoin, atendendo clientes institucionais famintos por um pedacinho desse suposto golpe.
Não é exagero dizer que o JPMorgan está lucrando com o ativo que seu CEO jura odiar. O banco passou a permitir negociações de ETFs de Bitcoin, participa de infraestrutura de custódia e até estuda blockchain para soluções internas. Dimon pode até usar o microfone para desdenhar da criptomoeda, mas seus executivos estão bem ocupados dizendo “sim, senhor” aos investidores.
Se você acha isso incoerente, não está pensando como um banco. O lema aqui é simples: critique com a boca, invista com a carteira. Afinal, se há demanda, há produto. E se o produto é Bitcoin, então que venha com embalagem de ETF e selo de aprovação regulatória.
Jamie Dimon personifica o cinismo elegante de Wall Street: criticar para o público, servir para os clientes. E tudo isso com um sorriso de quem sabe que o lucro, no fim das contas, sempre fala mais alto que a opinião.
Warren Buffett: o oráculo que odeia o rato, mas vende queijo
Warren Buffett, o lendário investidor de Omaha, chamou o Bitcoin de “veneno de rato ao quadrado”. Uma frase que virou manchete, meme e mantra para críticos. Mas enquanto ele jura que não toca em cripto nem com uma vara de dez metros, sua empresa, a Berkshire Hathaway, decidiu colocar alguns milhões em um banco latino-americano chamado Nubank. Uma instituição que, vejam só, oferece serviços de criptomoedas.
Investir em uma empresa que promove aquilo que você diz odiar não parece o tipo de coisa que um investidor centrado como Buffett faria. Mas, como ele mesmo gosta de lembrar, “não se aposta contra a inovação”. Ou, talvez, não se aposta contra lucros fáceis. De 2021 a 2025, a participação na Nu Holdings rendeu bons dividendos, com a Berkshire lucrando US$ 250 milhões com o investimento.
Claro, você não vai ouvir Buffett cantando as glórias do Bitcoin em conferências. Mas a mensagem está clara: ele pode até achar que o rato é venenoso, mas não se importa em vender queijo no caminho.
Ken Griffin: o cético com lucro nas tulipas digitais
Ken Griffin, fundador da Citadel, tem um talento especial para comparações dramáticas. Em seus discursos, o Bitcoin já foi comparado à bolha das tulipas – um fenômeno de 1637 que serve de exemplo para especulações histéricas sem sentido. Griffin acredita que o BTC não tem valor intrínseco, que é apenas uma moda passageira. Mas isso não o impediu de colocar sua empresa como uma das principais market makers nos ETFs de Bitcoin aprovados nos EUA.
Sim, a mesma Citadel que não vê futuro no ativo está faturando como intermediária das negociações de ETFs de Bitcoin. Se isso não é o equivalente financeiro a vender guarda-chuvas enquanto canta que não vai chover, não sei o que é. Mas, claro, tudo é feito com aquele ar de “estamos apenas prestando um serviço de liquidez ao mercado”.
A hipocrisia aqui é quase uma arte performática. Griffin sabe que sua opinião não impede o mundo de girar, e se o mundo quer girar em torno do Bitcoin, então ele vai cobrar pedágio. É o capitalismo em sua forma mais pura: critique o produto, mas venda o serviço.
E para quem acha que isso é um desvio de princípios, vale lembrar: princípios são flexíveis quando o mercado é lucrativo. Tulipas ou satoshis, o que importa é a margem.
Haters Gonna Cash
O Bitcoin pode até ser “veneno de rato”, “fraude” ou “bolha das tulipas” na boca desses titãs do mercado. Mas, curiosamente, é exatamente ele que está adoçando seus balanços trimestrais. Talvez o BTC não seja o sistema financeiro perfeito, mas serve muito bem para um certo tipo de comédia humana: a dos críticos que gritam alto, mas riem baixo – de preferência, enquanto contam os lucros.
No fim das contas, falar mal do Bitcoin não impede ninguém de encher os bolsos com ele. E talvez, só talvez, essa seja a prova mais forte de que ele realmente funciona. Porque se até seus inimigos estão lucrando com ele, imagine o que os aliados não estão fazendo.
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