O Pix pode ser um dos maiores orgulhos da economia digital brasileira, mas agora está no centro de um embate com os Estados Unidos.
Segundo documento oficial, o governo estadunidense acusa o Brasil de favorecer o sistema nacional em detrimento de empresas como a Meta — dona do WhatsApp Pay.
A queixa faz parte de uma investigação sobre possíveis práticas desleais de comércio. No meio disso tudo, está o Banco Central e a popularidade de um sistema que virou parte da vida de milhões de brasileiros.
💥 Pix vs WhatsApp Pay: o estopim da tensão
O documento do Escritório da Representação Comercial dos EUA (USTR) critica diretamente o Pix como um exemplo de “favorecimento de serviço estatal”.
A acusação é de que o Brasil teria dificultado a entrada de concorrentes — como o WhatsApp Pay — para impulsionar sua própria solução.
Em junho de 2020, pouco depois do anúncio do WhatsApp Pay no Brasil, o Banco Central e o Cade impediram o sistema de funcionar. Alegaram necessidade de avaliar riscos ao Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) e possíveis impactos sobre a concorrência.
Pouco tempo depois, o BC instituiu circular e resolução que alteraram as regras do mercado, criando novas exigências, como uma licença para atuação como “payment initiator”.
O WhatsApp Pay foi anunciado sem passar por aprovação prévia do Banco Central. Para o BC, qualquer novo arranjo de pagamentos precisava seguir regras já estabelecidas para o Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), o que não teria ocorrido no caso da Meta.
O argumento foi: não se tratava apenas de um app com transferência, mas de um novo arranjo de pagamento com escopo nacional — e, por isso, exigiria análise técnica e jurídica específica.
O BC argumentou ainda que precisava garantir que o sistema fosse tecnicamente robusto e não oferecesse riscos ao SPB.
Como as transferências seriam processadas por terceiros (Visa e Mastercard), o regulador queria garantir que as operações seriam transparentes e rastreáveis.
Esse tipo de cautela é comum em sistemas de pagamentos, ainda mais quando o meio é operado por uma big tech estrangeira e conta com grandes volumes.
🚫 WhatsApp travado, Pix liberado
Enquanto o WhatsApp Pay era colocado na geladeira, o Banco Central acelerava os testes do Pix. Em novembro de 2020, o sistema foi lançado oficialmente, com apoio de centenas de instituições financeiras.
A proposta simples, gratuita e disponível 24 horas caiu no gosto da população. Em poucos meses, o Pix virou a forma mais popular de transferência no país.
📉 WhatsApp Pay nunca decolou
Em 2021, o Banco Central finalmente liberou o WhatsApp Pay — mas já era tarde. O Pix havia se consolidado. O serviço da Meta até voltou ao ar, mas nunca teve adesão relevante.
Hoje, a diferença entre os dois sistemas é clara. Enquanto o Pix é usado para qualquer tipo de transação, o WhatsApp Pay ainda é limitado e pouco lembrado pela maioria dos usuários.
🌎 Por que os EUA se incomodam?
Para o governo estadunidense, barrar um sistema estrangeiro enquanto se impulsiona um nacional soa como protecionismo. A queixa faz parte de um dossiê que também menciona corrupção, desmatamento e barreiras comerciais.
Especialistas ouvidos pela imprensa estadunidense afirmam que o Pix virou símbolo de como o Brasil está construindo um ecossistema digital próprio — o que, para empresas dos EUA, representa um obstáculo ao lucro.
Mas quando os Estados Unidos falam de protecionismo no Brasil é importante destacar um fator. Desde que reassumiu a presidência em 2025, Donald Trump voltou a adotar uma agenda fortemente protecionista com tarifas elevadas contra produtos da China, taxação extra sobre aço, semicondutores, veículos elétricos europeus e, mais recentemente, novas barreiras contra serviços digitais estrangeiros.
A retórica é: “America First”, com foco em proteger empresas nacionais, recuperar empregos locais e dificultar a entrada de competidores estrangeiros — mesmo que isso afete acordos multilaterais ou gere tensão com parceiros comerciais.
A crítica feita pelo USTR (órgão responsável pela política comercial dos EUA) ao Brasil, por ter priorizado o Pix, soa incoerente quando comparada à postura estadunidense. Afinal, quando o governo dos EUA toma medidas para proteger seus próprios setores, o discurso é de “defesa da soberania econômica”. Mas quando outro país faz algo parecido, isso vira “barreira injusta”.
Por que o Brasil não pode fortalecer um sistema público que gerou inclusão financeira, eficiência e redução de custos para a população?
Na prática, todos os países adotam medidas de proteção estratégica em determinados setores.
O que incomoda os EUA não é o Pix em si — é o fato de que ele deu certo e reduziu o espaço de empresas estadunidenses no Brasil, como o WhatsApp Pay, Visa e Mastercard.
Essa crítica tem mais a ver com interesses comerciais das big techs do que com princípios de livre mercado.
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