Que o mercado de criptomoedas está de olho nas taxas de juros dos Estados Unidos você já sabe. Mas já se perguntou o motivo? Já parou para pensar em como e por que o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, mesmo sem estar ligado à indústria blockchain, impacta tanto o preço do bitcoin (BTC) e das altcoins?
Se essas dúvidas estão em sua mente agora e você quer saber o que dizem os analistas do mercado cripto brasileiro sobre o que esperar de uma possível mudança na direção dos juros norte-americanos, está no lugar certo, pois neste artigo, vamos tirar todas as suas dúvidas sobre o tema.
O que é a taxa de fundos federais dos EUA e como ela é decidida
A taxa de fundos federais é a taxa de juros que os bancos cobram uns dos outros quando emprestam dinheiro de suas reservas durante a noite. Ela é definida pelo FOMC (Federal Open Market Committee), que faz parte do Federal Reserve, e ajuda a controlar a economia do país.
Os bancos são obrigados por lei a manter uma certa quantia de dinheiro guardada como reserva, para garantir que tenham fundos para atender às retiradas dos clientes e outras obrigações.
Se um banco tem mais dinheiro do que o necessário em sua reserva, ele pode emprestar o excedente a outro que precise. A taxa de juros que a instituição que empresta pode cobrar é chamada de taxa de fundos federais.
O FOMC se reúne, em regra, oito vezes ao ano para revisar essa taxa, ajustando-a conforme necessário para manter o equilíbrio da economia. Para essa revisão, o comitê leva em consideração diversas informações, como a inflação, dados de consumidores e sinais de recessão.
Como as taxas de juros podem influenciar o mercado financeiro
Mudanças nas taxas de juros podem ser boas ou ruins quando o assunto é ações, títulos ou criptomoedas.
Se a taxa de juros está alta, significa que pedir dinheiro emprestado em empréstimos e/ou financiamentos fica mais caro. Isso faz com que as pessoas gastem menos e as empresas invistam menos, o que pode reduzir os lucros dessas empresas e, por consequência, o valor das ações.
O mercado de criptomoedas também sente de forma negativa o aumento da taxa de juros. Afinal, quando fica mais caro pegar dinheiro emprestado, tanto empresas quanto pessoas têm menos capital sobrando para investir e aplicar nesses ativos.
Com o capital que sobra para fins de especulação em um cenário de taxas de juros altas e incerteza econômica, o que os investidores mais querem é ser conservadores, colocando seu dinheiro em investimentos mais seguros, como títulos, que passam a oferecer melhores retornos.
Além disso, o aumento dos custos de empréstimos pode tornar as empresas mais cautelosas. Como as criptomoedas são um mercado extremamente volátil, os investidores podem evitar esse risco adicional quando o crédito está caro.
Por outro lado, um cenário de taxas baixas torna os empréstimos mais baratos, incentivando as pessoas a gastarem mais e as empresas a se expandirem. Nesse cenário, os lucros voltam para as companhias, elevando o valor das ações.
Com taxas de juros baixas, investimentos tradicionais também passam a oferecer um retorno menor, fazendo com que investidores com apetite renovado por risco busquem alternativas que possam trazer maiores ganhos, como criptomoedas.
“Em um cenário de taxas de juros baixas, a liquidez global teria um aumento favorável, diferente dos ativos tradicionais, como títulos públicos, que passam a oferecer rendimentos menos atrativos. Isso leva investidores institucionais a diversificarem suas carteiras, aceitando maiores riscos, como em investimentos com criptomoedas para alavancar os ganhos”, destaca Danilo Matos, especialista em criptomoedas da NovaDAX.
Taxas atuais
No momento da escrita do artigo, 17 de setembro de 2024, a taxa de juros anual nos Estados Unidos é de 5,25–5,50%, o maior nível em 23 anos.
“43% de todos os dólares que foram impressos foram emitidos a partir de 2020 para conter o avanço da pandemia. Só que, logicamente, com tanta impressão de dinheiro, isso causa inflação. Para conter o avanço da inflação, o governo dos Estados Unidos precisou aumentar a taxa de juros”, explica Gabriel Broetto, gerente comercial da Brasil Bitcoin.
Imagem: Forbes
Em meados de 2022, a inflação nos EUA atingiu seu pico, levando a sete aumentos consecutivos das taxas. Mas esse cenário pode começar a mudar a partir de amanhã (18).
A pressão sobre o presidente do Fed, Jerome Powell, tem sido grande, com senadores democratas, como Elizabeth Warren e Sheldon Whitehouse, solicitando inclusive um corte de 75 pontos base.
Apesar de a solicitação dos políticos parecer distante da realidade, segundo a ferramenta CME FedWatch, a possibilidade de corte de juros pelo Fed em 0,50 ponto percentual é de 65%, contra 35% de apostas por um ajuste menor, de 0,25 p.p.
Imagem: cmegroup
Com isso entendido, vamos ao que os analistas pensam sobre o impacto do afrouxamento das taxas no preço do bitcoin.
Não espere cortes agressivos
Segundo Vinicius Terranova, Venture Capital de ICO, podemos esperar que o Federal Reserve realize cortes de 25 pontos-base na taxa de juros até março de 2025. Na visão do especialista, um corte de 50 pontos-base é uma realidade distante.
“Geralmente, esse tipo de corte é feito em momentos de emergência, e um corte tão acentuado poderia sinalizar algum tipo de desespero. Talvez o próprio mercado, mesmo reagindo positivamente a curto prazo, perceba, eventualmente, que há algo errado, possivelmente relacionado às eleições ou a algum outro fator que revele um pouco de desespero do Fed.
Mercado de criptomoedas deve subir de forma consistente
A COO da CryptoMKT, Denise Cinelli, aponta que, com o Fed reduzindo as taxas de juros, estamos diante de um momento propício para a valorização de ativos que oferecem segurança a longo prazo.
“O Bitcoin, com sua escassez programada e adoção crescente, está posicionado como um porto seguro, especialmente para investidores institucionais que buscam diversificação além dos mercados tradicionais”.
Por outro lado, Terranova destaca que, com cortes de 25 pontos-base, é provável que vejamos um movimento de alta nos mercados de cripto e ações.
“Ativos de risco podem começar a subir de forma lenta, mas muito mais consistente. Eu não gostaria de ver o mercado explodir novamente. Prefiro uma alta mais sustentável. Isso não quer dizer que o bitcoin vai subir apenas 1%; ele provavelmente subirá com mais força relativa. Eu gostaria de ver essa redução de 25 pontos-base na próxima reunião do FOMC. Se seguirmos esse caminho, acredito que veremos a retomada do bullrun em 2025”.
Conforme observado pelo trader, estamos em um mercado de touros diferente, onde o bitcoin tem muito mais destaque que as altcoins, pelo menos a curto prazo.
“Podemos ver as altcoins retornarem ao ponto em que estavam antes da queda no início do ano, mas o bitcoin seguirá dominando, principalmente por causa dos ETFs”.
Quem também tem uma visão positiva sobre os ETFs spot de Bitcoin é Gabriel Broetto:
“Os ETFs podem trazer um capital nunca antes visto ao mercado de criptomoedas, possibilitando o maior bull market da história, com o bitcoin valorizando bastante e as altcoins acompanhando”.
Falando em altcoins, com o corte nas taxas elas devem subir?
De acordo com Terranova, a resposta é não. Afinal, ele espera que grande parte do volume de compra vá para o bitcoin e pouco para as altcoins.
“Este ciclo está um pouco diferente dos anteriores. Mas, se repetirmos o que aconteceu no último ciclo, onde o bitcoin subiu muito, depois caiu, e só então as altcoins explodiram no final do ciclo, talvez vejamos uma altseason. Porém, tenho a impressão de que essa altseason não será tão forte quanto as anteriores”.
No caso de uma altseason, o analista acredita que ela pode ocorrer no final do ciclo de alta, com as memecoins voltando ao foco dos investidores.
“As pessoas ainda veem esse mercado como uma aposta. Assim, podemos ver investidores deixando uma parte de seu dinheiro em uma memecoin e outra parte em outra, na esperança de acertarem o pote de ouro e, depois, obviamente, comprando bitcoin com esses ganhos”.
Visões mais otimistas
O gerente comercial da Brasil Bitcoin tem uma visão diferente de Terranova, acreditando que o ciclo de alta continuará forte.
“O BTC deve atingir uma nova máxima, na minha opinião, acima de US$ 100 mil, e várias altcoins devem romper suas antigas máximas históricas. Temos um mercado cripto cada vez mais fortalecido, com a presença de investidores institucionais, então minha expectativa é muito positiva para este ciclo”.
Com uma visão semelhante à de Broetto, está a especialista em Swing trader e estudante de DeFi, Isis Faria, que, embora espere que o bitcoin suba de forma gradual até o final de 2024 com o corte na taxa de juros, acredita na marca de seis dígitos para o preço da criptomoeda primária.
“Vai chegar um momento, em alguns meses, que o bitcoin vai subir acima do normal, como ele sempre faz… Acredito que o BTC chegue a US$ 100 mil, e as altcoins automaticamente vão atrás, fazendo aquela subida astronômica”.
Isis enxerga um mercado fortalecido, com mais bancos e empresas interessadas nesse universo.
“Vai ser uma avalanche de dinheiro entrando. Na segunda onda, espero que o bitcoin chegue a US$ 250 mil até meados do ano que vem. E as altcoins também devem subir entre 10 e 20 vezes, pelo menos as 100 maiores altcoins do mercado”.
A COO da CryptoMKT também destaca o papel das altcoins nesse novo cenário:
“As altcoins estão no centro da próxima revolução tecnológica. Com o corte na taxa de juros, o capital de risco deve fluir para esses projetos de inovação, impulsionando seu desenvolvimento e aumentando a adoção em larga escala. O Ethereum, por exemplo, está se consolidando como uma plataforma fundamental para aplicativos descentralizados, enquanto outras redes, como a Solana, oferecem soluções alternativas que atendem às demandas por maior escalabilidade”.
Já o youtuber Vo Epaminondas está de olho em outro evento que, em sua visão, pode ser um divisor de águas para as criptomoedas.
“O corte nos juros pode ajudar nosso mercado, mas sinceramente, ainda tem muita coisa para acontecer. Eu acredito que o resultado das eleições será mais impactante”.
Por fim, Pedro Gutierrez, diretor regional da CoinEx para a América Latina, relembrou a série de cortes de juros em 2020, quando o bitcoin saiu de US$ 8.000 para mais de US$ 28.000 ao longo de vários meses.
“No cenário atual, com a crescente adoção institucional e a confiança nos ativos digitais, podemos prever uma nova onda de investimentos em criptoativos, caso a tendência histórica se repita. No entanto, é essencial monitorar fatores macroeconômicos adicionais, como a inflação e a política monetária global, que continuarão influenciando o comportamento do mercado de criptomoedas”.