Mantra (OM): como um token de US$ 6 bilhões desabou 90% em uma hora

Mantra (OM): como um token de US$ 6 bilhões desabou 90% em uma hora
Coindesk

Na noite do último domingo (13), os investidores de criptomoedas testemunharam um dos colapsos mais rápidos e violentos de sua história recente: a Mantra (OM), projeto que se destacava no hype de “ativos do mundo real” (RWA), despencou 90% em menos de uma hora, evaporando quase US$ 6 bilhões em capitalização de mercado.

O episódio levou o Crypto Twitter (CT) a traçar paralelos com o colapso da Terra (LUNA) em 2022, mas, desta vez, sem hacks ou falhas técnicas — apenas uma combinação explosiva de gestão questionável, concentração de poder e pânico generalizado.

Mas antes de você se desesperar, eu preciso destacar que o colapso das altcoins TerraUSD (UST) e LUNA eliminou US$ 45 bilhões do mercado praticamente da noite para o dia, além de afetar diversos protocolos DeFi. Ou seja, não é a mesma coisa que aconteceu agora.

Por mais que uma queda dessas seja ruim, ela não afeta diretamente outros grandes projetos e empresas. No geral, os afetados foram os investidores do OM. Não é meu intuito diminuir a perda de ninguém, apenas fazer um disclaimer para que você não entre em pânico pensando que o mercado será impactado assim como na época da LUNA.

O que aconteceu?

Tudo começou quando três carteiras, que o CT apontou como possivelmente associadas à equipe da Mantra, transferiram grandes quantidades de OM para as exchanges de criptomoedas OKX e Binance pouco antes do crash. São elas:

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Agora é importante fazer um parêntese para destacar que a terceira carteira foi atribuída à Laser Digital e enviou US$ 41 milhões em OM para a OKX. No entanto, a empresa nega que tenha feito essa transferência.

“A Laser não tem envolvimento no recente colapso de preços de $OM. Afirmações que circulam nas redes sociais que associam a Laser à ‘venda de investidores’ são factualmente incorretas e enganosas. Queremos deixar bem claro: a Laser não depositou nenhum token $OM na OKX. As carteiras referenciadas à OKX não são carteiras da Laser”.

Só que a empresa não compartilhou o endereço de sua wallet até o momento da escrita do artigo para que os investidores pudessem verificar o que foi dito. Assim, as especulações continuam rodando no CT.

Imagem: Arkham Intelligence

Seguindo…

Ainda antes do colapso do $OM, 17 carteiras depositaram 43,6 milhões de unidades do token (US$ 227 milhões) em exchanges. Isso representa 4,5% do suprimento circulante da altcoin.

O medo de prejuízos desencadeou uma corrida para vendas, criando uma cascata de liquidações em margens e stop-losses. Em minutos, o preço do OM despencou de US$ 6 para US$ 0,60, e a capitalização de mercado evaporou de US$ 6,5 bilhões para menos de US$ 1 bilhão.

As razões por trás do colapso

A Mantra sempre enfrentou críticas pela centralização dos tokens. De acordo com dados on-chain, a equipe detinha a maioria dos OM, enquanto prometia uma “comunidade ativa”. Inclusive, alterações frequentes no modelo de tokenomics e mudanças nas regras de vesting já foram motivos de desconfiança dos investidores da cripto.

Durante o último ano também surgiram rumores de que a Mantra estaria utilizando market makers para inflar artificialmente o preço do token.

Além disso, a equipe do projeto fechou vendas privadas de OM com descontos de 50% ou mais. Quando o preço caiu para níveis próximos desses valores, os compradores OTC entraram em pânico, temendo perdas iminentes, e iniciaram uma onda de vendas.

A combinação entre a venda massiva e a baixa liquidez em exchanges descentralizadas (DEXs) aumentou o crash. Posições alavancadas foram liquidadas automaticamente, acelerando a queda.

Resposta da equipe

A Mantra emitiu um comunicado afirmando que o projeto está “fundamentalmente forte” e que o crash foi causado por “liquidações irresponsáveis”, não por ações da equipe. Além disso, o fundador John Mullin afirmou, via X, que “nenhum token da equipe foi movimentado” compartilhando o seguinte endereço para verificação de dados mantra1yejpacug78zuqkzwwuc94c0a2al4mz4yfqquam.

No entanto, o CT não desistiu a destacou: 

  • O canal oficial do Telegram foi excluído durante o pico da crise — um fato inicialmente negado pela equipe. Aqui, é importante dizer que no momento da escrita do artigo, o TG do Mantra está no ar.
  • O CT alega que a equipe da Mantra estaria envolvida em rugpulls anteriores, como o do projeto RioDeFi (RFUEL), que também sofreu um colapso repentino. Nesse caso, Will Corkin, cofundador do Mantra, e o próprio Mullin são também advisor do RioDeFi, que perdeu 99% de sua capitalização desde o seu lançamento.

A equipe também foi acusada no CT de:

  • Manipular votações da DAO usando carteiras falsas para aprovar propostas favoráveis ao time.
  • Mudar as regras do airdrop diversas vezes, com prazos adiados e desbloqueios que pareciam criados para manter investidores presos enquanto insiders preparavam vendas
  • Forçar usuários a migrarem para a Mantra Chain, criando demanda artificial para o token pouco antes de um grande despejo.
Mais explicações do fundador

Segundo Mullin, o colapso do OM não foi causado pela equipe do projeto, mas sim por liquidações forçadas e “imprudentes” realizadas por exchanges centralizadas.

“Determinamos que os movimentos de mercado do OM foram desencadeados por encerramentos forçados iniciados por exchanges centralizadas sobre contas que detinham o token. A profundidade e o momento do crash sugerem que o fechamento repentino de posições ocorreu sem aviso prévio adequado”.

O fundador apontou que o fato de tudo ter acontecido em um domingo à noite no horário UTC — período de baixa liquidez — levanta dúvidas sobre a conduta dessas plataformas. Mullin afirma que houve, no mínimo, negligência. Em um tom mais duro, o empresário insinua até mesmo a possibilidade de manipulação intencional de mercado por parte das plataformas criptos.

“As exchanges centralizadas exercem altos níveis de discricionariedade. Quando esse poder é usado sem supervisão interna e externa adequada, disfunções como essa podem acontecer — e machucam tanto os projetos quanto os investidores”.

Mullin reforçou que nem a equipe da Mantra, nem os conselheiros ou investidores principais do projeto venderam tokens durante o evento. Segundo ele, os OM permanecem bloqueados conforme os prazos de vesting previamente divulgados. 

“Estamos aqui para o longo prazo”.

Em resposta, o @mvparadigm questionou:

“Especificamente o quê, Mullin? Não estamos na era cripto de 2016. Quais exchanges? Quantas contas? O que motivou o fechamento? Colocar toda a culpa “neles” geralmente soa como uma jogada de marketing ou mostra que a OM é administrada por uma equipe muito inexperiente, que deposita toda a sua fé “nas mãos dos outros”. Façam melhor pela comunidade e por este mercado”.

O empresário apenas disse: Estamos compilando todas as informações e as compartilharemos no devido tempo.

Uma das especulações é que a OKX seja essa exchange, pois a maior parte dos depósitos de OM foi feita nela. Com isso, o fundador da empresa comentou:

“É um grande escândalo para toda a indústria cripto. Todos os dados on-chain de desbloqueio e depósitos são públicos, e as informações de colateral e liquidação das principais exchanges podem ser investigadas. A OKX vai disponibilizar todos os relatórios!”.

Como bem destacou o analista @pasha_insights na rede social X: “Não importa quantas siglas ou VCs apoiam um projeto — se a equipe controla 90% dos tokens, você é a liquidez de saída”.

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