A Câmara dos EUA aprovou por margem apertada o projeto apelidado de “One Big Beautiful Bill”, agora oficialmente sancionado por Donald Trump.
O texto combina cortes de impostos com aumento de gastos públicos, elevando o déficit fiscal em até US$ 3 trilhões.
A reação do bitcoin foi imediata — mas o que isso mostra sobre o momento atual do mercado cripto?
🔍 O que é o “One Big Beautiful Bill”
O “One Big Beautiful Bill” é como Trump passou a se referir ao projeto de lei H.R.1, um pacote que reúne cortes permanentes de impostos, aumento de gastos públicos e mudanças na distribuição do orçamento federal. A proposta foi aprovada por uma diferença mínima na Câmara — 218 a 214 — e sancionada em 4 de julho.
O texto movimenta até US$ 4,5 trilhões e, segundo estimativas da CBO, deve elevar o déficit dos EUA em mais de US$ 2 trilhões na próxima década. A lei mantém cortes de impostos criados em 2017, aumenta deduções para gorjetas e horas extras, injeta recursos em defesa e fronteira, mas corta programas como Medicaid, SNAP e subsídios à energia limpa.
Embora o nome não conste no texto oficial, o apelido virou parte da estratégia política do governo, usada para comunicar força e simplicidade. Internamente, a proposta também expôs divisões no Partido Republicano — que abandonou, ao menos neste pacote, o discurso de austeridade fiscal.
💵 O que muda no cenário macroeconômico
Com a nova lei, os Estados Unidos devem registrar um aumento no déficit público nos próximos anos. A estimativa mais conservadora fala em US$ 2 trilhões extras até 2034. Na prática, isso pressiona o Tesouro a emitir mais dívida, o que pode causar alta nos juros longos (porque o mercado exigirá retornos maiores para continuar comprando essa dívida).
Se essa pressão ficar muito forte, o Federal Reserve pode acabar sendo obrigado a:
- Cortar juros mais cedo do que gostaria (para aliviar o custo da dívida)
- Ou até voltar a comprar títulos do Tesouro — o famoso quantitative easing — para evitar um colapso no mercado de dívida.
Esse tipo de movimento costuma afetar diretamente o dólar. Quanto mais dívida o país assume, maior o risco de perda de confiança na moeda estadunidense. E em momentos assim, investidores buscam proteção em ativos que não dependem de bancos centrais, como o ouro — e o bitcoin.
A lógica é simples: mais impressão de dinheiro significa mais risco de desvalorização. Como o BTC tem oferta limitada, ele se torna mais atrativo em contextos de expansão fiscal agressiva.
🧩 Como economistas avaliam o impacto da lei Trump na economia dos EUA
✅ Vozes favoráveis
- Scott Bessent, secretário do Tesouro no governo Trump, disse que a não aprovação do pacote poderia gerar uma crise financeira comparável à de 2008. Ele afirma que o aumento do teto da dívida e extensão dos cortes fiscais são importantes para manter a “soberania fiscal” dos EUA.
- A Casa Branca, por meio do CEA (Conselho de Assessores Econômicos), divulgou projeções otimistas: com crescimento econômico maior, o pacote poderia reduzir a razão dívida/PIB para 94% na próxima década e até cortar US$ 5,5 trilhões em déficit acumulado.
❌ Vozes críticas
- Nathan Sheets, da Citi Global, avalia que o impacto sobre o déficit já é grande (6–6,25% do PIB). Ele vê um aumento mínimo no crescimento econômico a curto prazo e risco de contração mais à frente, lembrando que as tarifas de Trump podem pressionar a inflação.
- Um editorial do Financial Times e vozes como Joseph Stiglitz destacam que o pacote representa um “Robin Hood às avessas”, favorecendo os mais ricos enquanto agrava a desigualdade e prejudica programas sociais — com risco de milhões perderem acesso à saúde .
- Economistas do University of Chicago/Kent C. Clark Center destacam que, nos próximos 5–10 anos, a credibilidade da economia dos EUA estará em xeque se essas medidas continuarem, especialmente devido à interferência política no Federal Reserve.
📊 Como o mercado cripto reagiu
A reação do mercado foi quase imediata. Assim que a Câmara aprovou o projeto e confirmou a sanção presidencial, o bitcoin subiu de forma consistente, ultrapassando os US$ 105 mil em algumas corretoras globais. No momento da escrita do artigo, a criptomoeda é negociada a US$ 108 mil.
Além do preço, o volume de negociação também aumentou, assim como a entrada de capital nos ETFs spot de Bitcoin nos Estados Unidos. Só no dia seguinte à aprovação final, os fundos somaram US$ 100 milhões em aportes líquidos.
🧠 O que dizem os analistas
A reação positiva do bitcoin não foi por acaso. Para especialistas, o novo pacote fiscal reforça a principal tese por trás do BTC: a ideia de que um sistema baseado em dívidas, impressão de dinheiro e expansão desenfreada do orçamento tem prazo de validade.
Steven Rossi, CEO da Worksport, resumiu com ironia: “Cada novo trilhão dessa lei é propaganda gratuita para o Bitcoin”. Ele se refere ao impacto do déficit sobre a confiança no dólar, que historicamente impulsiona a busca por ativos alternativos.
Joshua Field, gestor da Contango Digital, acredita que a política fiscal atual tende a empurrar os investidores para o BTC como proteção contra desequilíbrios monetários. Para ele, “quanto mais instável estiver o modelo tradicional, mais forte será a narrativa do Bitcoin como reserva de valor”.
Além disso, o avanço dos ETFs tem reforçado o movimento de entrada institucional. Juntas, essas estruturas já concentram quase 900 mil BTC em custódia — e continuam recebendo aportes consistentes, mesmo em dias de correção. Para analistas do Standard Chartered e da AInvest, o comportamento dos fundos mostra que grandes investidores estão aproveitando o momento para se posicionar em um ativo escasso, diante de um cenário fiscal mais frágil.
⚖️ Mas afinal… isso é bom ou ruim para o bitcoin?
A curto prazo, o mercado interpretou a aprovação do pacote como algo positivo. A alta do BTC, o volume de negociações e o fluxo constante para ETFs mostram que a expectativa de mais dinheiro circulando e juros controlados favorece os ativos digitais.
Mas o impacto vai além da reação imediata. O BTC nasceu como resposta a sistemas baseados em endividamento e manipulação monetária — exatamente os pontos que voltam ao debate com esse novo pacote. Para quem defende a criptomoeda como alternativa ao modelo tradicional, o “One Big Beautiful Bill” é quase um argumento prático da tese original da invenção de Satoshi Nakamoto.
Por outro lado, nem tudo é ganho automático. Se o déficit sair do controle e pressionar a inflação, o Federal Reserve pode ser forçado a subir os juros, o que tende a esfriar o apetite por risco — inclusive no mercado cripto. O BTC já se valorizou em ciclos anteriores assim, mas sempre com volatilidade no caminho.
No fim das contas, o pacote de Trump reforça a ideia de que o bitcoin funciona como um termômetro da confiança nas finanças tradicionais. E, neste momento, essa confiança está visivelmente abalada.
⏰ O que observar daqui pra frente
Agora que a lei foi sancionada, os desdobramentos devem aparecer aos poucos — não apenas no mercado cripto, mas em toda a economia. O primeiro ponto de atenção está na resposta do Federal Reserve: se os juros seguirem estáveis ou começarem a cair, o cenário segue favorável ao bitcoin. Mas se o banco central endurecer o tom para conter uma possível alta da inflação, o impacto pode ser inverso.
Outro fator importante será o comportamento dos investidores institucionais. Se os aportes em ETFs continuarem firmes, o BTC tende a manter força, mesmo com oscilações pontuais. Já uma reversão nesse fluxo pode sinalizar mudança de tendência.
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