Um post na rede social X, feito pelo analista de criptomoedas Deso, fez com que investidores que usam essa plataforma voltassem a falar sobre a estabilidade do USDT.
Segundo Deso, a maior stablecoin do mundo pode não estar totalmente lastreada por dólares reais, e sim por dinheiro emprestado e estruturas financeiras arriscadas.
Deso afirma que a operação por trás da Tether, empresa responsável pelo USDT, pode ter características de um esquema de pirâmide.
A stablecoin, cujo objetivo é manter paridade de 1:1 com o dólar estadunidense, é utilizada em negociações em exchanges centralizadas e projetos de finanças descentralizadas (DeFi).
No entanto, a alegação é que empresas estariam pegando dinheiro emprestado para comprar USDT, convertendo o token em criptomoedas e vendendo essas criptos por dólares. O processo, então, se repetiria indefinidamente.
Quem está por trás desse esquema?
As empresas citadas por Deso são Abraxas, Cumberland e Wintermute. Segundo o analista, essas instituições dependem de preços elevados das criptomoedas e da demanda constante para sustentar o ciclo.
Nesse sentido, caso os preços caiam ou a demanda diminua, o sistema poderia ruir, deixando dívidas impagáveis — uma dinâmica que ele compara à de um esquema Ponzi.
“Significa que a Abraxas e a Cumberland pegam dinheiro emprestado para comprar USDT. Já a Wintermute toma empréstimos para comprar criptomoedas. Depois, a Abraxas e a Cumberland vendem os USDT para a Wintermute em troca de criptos. Com os dólares obtidos nessa venda, elas voltam a tomar novos empréstimos e repetem o ciclo, aumentando sua alavancagem. Enquanto isso, a Wintermute envia as criptomoedas para a Binance, onde esses ativos circulam até que investidores de varejo os comprem”.
O analista apontou que agora pode provar partes desse ciclo. Isso porque Abraxas e Cumberland não são públicas, mas Wintermute precisa declarar suas finanças publicamente, segundo a lei do Reino Unido.
“Isso mostra claramente que seu inventário é baseado em dinheiro emprestado, enquanto seus ativos líquidos consistem principalmente de sua conta PnL. Então, basicamente, lucros com criptomoedas”.
Conforme observado por Deso, a Wintermute ainda tem tokens nos livros contábeis com os quais tem um ganho líquido, que representa a maior parte de seus ativos.
“Em outras palavras: se os preços das criptomoedas não estivessem em alta, há uma boa chance de que eles quebrassem, já que sua conta PnL levaria um tiro na cabeça”.
Já sobre Cumberland, Deso afirmou que não pode dizer o mesmo, pois ela faz parte de uma grande empresa privada cujo fundador começou no mercado de opções de eurodólares, “empréstimos feitos em dólares por pessoas que, na verdade, não têm dólares, o que soa muito familiar“.
Em relação à Abraxas, o investigador disse que supostamente a empresa está “gerenciando seus ativos em nome do HEKA Funds”, que é um fundo hedge baseado em Malta.
“Mas, até onde consegui investigar, não encontrei absolutamente nada sobre eles, e o tamanho do fundo listado que consegui localizar coincide com o do próprio fundo ‘Elysium Global Arbitrage’ da Abraxas”.
O que dizem os dados on-chain?
Entidades-chave aparecem como principais contrapartes:
- Abraxas e Cumberland são listadas como contrapartes frequentes nas transações recentes com a carteira da Tether.
- Isso reforça a acusação de que essas empresas estão ativamente envolvidas no ciclo de alavancagem descrito: pegam empréstimos, compram USDT, convertem em cripto, vendem por dólares e recomeçam.
Volume transacionado extremamente alto:
- Exemplo: somente Chainswaps via Bitfinex movimentou US$ 7,26 bilhões em 29 transações no último mês.
- Abraxas e Cumberland também aparecem com bilhões de dólares em transações — valores anormalmente altos para empresas pouco transparentes.
Uso de múltiplas redes e tokens (ETH, USDT, SFP, etc.):
- Indica que o “circuito” é sofisticado, diversificado e altamente integrado às infraestruturas DeFi, dificultando a fiscalização externa.
Atividade concentrada em poucas entidades:
- A imagem compartilhada por Deso mostra que a maioria das interações da carteira da Tether no último mês está ligada a essas poucas empresas — o que reforça a ideia de concentração e dependência do sistema.
Mudança para El Salvador
Outro ponto levantado pelo investigador é a mudança de sede da Tether para El Salvador, país que não possui tratado de extradição com os Estados Unidos. Para ele, essa movimentação levanta suspeitas sobre as intenções da empresa.
Deso também falou sobre o poder concentrado do cofundador da Tether, Giancarlo Devasini, que segundo a ferramenta de rastreamento Arkham Intelligence, controla atualmente ao menos US$ 150 bilhões em USDT.
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