BlackRock está por trás da queda atual do bitcoin?

BlackRock está por trás da queda atual do bitcoin?
GROK

Enquanto escrevo este artigo, o bitcoin é negociado a US$ 86 mil, como resultado de uma correção de 11% nos últimos sete dias. Para alguns do mercado de criptomoedas, essa queda toda tem nome e se chama BlackRock. Mas será que essas afirmações são apenas teorias da conspiração ou uma verdade incontestável? Vem tirar suas próprias conclusões neste artigo.

Saídas milionárias dos ETFs spot de Bitcoin

Os ETFs spot de Bitcoin nos Estados Unidos estão enfrentando um período de forte saída de capital. Para exemplificar, ontem (26) esses fundos perderam US$ 754 milhões. Liderando esses despejos está o IBIT da BlackRock, que registrou um volume recorde de resgates, totalizando US$ 418,1 milhões, ou 5.002 bitcoins.

Apesar do recuo, o IBIT ainda mantém sua posição como o maior ETF spot de Bitcoin dos EUA, acumulando US$ 40 bilhões em entradas líquidas desde seu lançamento em janeiro de 2024. Além disso, o fundo concentra a maior parte do volume negociado, respondendo por 72% das transações realizadas nesses produtos na quarta-feira.

Manipulação e fork do Bitcoin?

Sem dúvida, essas vendas gigantescas de bitcoin afetam o preço da criptomoeda primária, e a BlackRock já estava sendo criticada por isso há algum tempo. Por exemplo, no final de 2024, o autor e investidor Robert Kiyosaki se posicionou contra o produto da gestora, apontando que a estratégia da empresa permitiria que investidores institucionais comprassem BTC por valores abaixo de US$ 100 mil, prejudicando investidores menores.

“BlackRock suprimindo o preço do bitcoin para que as baleias possam comprar bitcoin abaixo de US$ 100 mil”.

O comentário de Kiyosaki foi feito depois que o ETF de Bitcoin da BlackRock registrou, até a época, sua maior saída em um único dia, de US$ 188,7 milhões, em 24 de dezembro. Antes disso, a empresa havia depositado 828 BTC na Coinbase em 23 de dezembro.

Essa visão sobre o comportamento da BlackRock também é compartilhada no Crypto Twitter (CT). Inclusive, o influenciador @0xStartt comentou sobre a gestora, observando que a companhia possui “mais de US$ 10 trilhões, o que a permite influenciar mercados globais, além de aconselhar empresas e governos”. 

Mas de onde vem tanto dinheiro?

A principal renda da BlackRock vem de taxas cobradas para gerenciar investimentos em nome de clientes. As comissões vêm de grandes transações, como serviços de consultoria, gerenciamento de risco e produtos de investimento, ativos sob gestão (ETF).

Outra teoria que ganhou força, principalmente no CT, é a possibilidade de um hard fork do Bitcoin promovido pela BlackRock. Em documento apresentado à SEC, a empresa teria poder para definir a versão do BTC que será utilizada em seu fundo, o que poderia criar um cenário de divisão dentro da rede.

Agora vamos entender os dois pontos mencionados.

Como funciona a gestão da BlackRock

A estrutura do IBIT da BlackRock, e demais ETFs spot, funciona de maneira a refletir os fluxos dos investidores. Em outras palavras, o gestor do fundo – neste caso, a BlackRock – executa operações de compra ou venda dos ativos subjacentes (o Bitcoin) de acordo com as entradas e saídas de capital dos seus clientes.

Quando investidores decidem resgatar suas cotas ou, ao contrário, realizar novas aplicações, o fundo precisa ajustar sua carteira. Se houver muitas retiradas, o ETF precisa vender parte dos bitcoins para atender a esses pedidos.

No mercado de ETFs, existe um processo denominado “criação e resgate”, no qual participantes autorizados (instituições que trabalham com o ETF) trocam grandes blocos de ações do fundo por uma cesta de ativos subjacentes, ou vice-versa. Esse mecanismo ajuda a manter o preço do ETF alinhado com o valor dos ativos.

Mas quem decide as operações de venda?

São os investidores que, ao optarem por resgatar suas cotas ou investir no fundo, determinam a necessidade de liquidação ou aquisição de ativos. Sendo assim, o timing das operações é impulsionado pelo comportamento do mercado e pela demanda dos clientes.

A BlackRock, como gestora, executa essas operações conforme as regras do fundo e as demandas dos investidores. Ou seja, ela não decide arbitrariamente o momento de vender o bitcoin, mas sim responde às flutuações de caixa que surgem com as operações dos clientes.

E o fork do Bitcoin?

O prospecto do iShares Bitcoin Trust contém uma cláusula que, em caso de hard fork na rede Bitcoin, confere ao Sponsor (no caso, BlackRock) a autoridade exclusiva para determinar, de boa-fé, qual das redes resultantes do fork será considerada como “a rede Bitcoin” para os propósitos do Trust.

Assim, se ocorrer um hard fork – quando a blockchain se divide em duas versões incompatíveis – o Sponsor tem o poder de escolher qual das duas redes será adotada para representar o bitcoin no fundo. Essa escolha pode, inclusive, afetar o valor das ações do Trust, pois o mercado poderá reagir de forma diferente dependendo da rede escolhida.

Vamos às conclusões

Eu acho que, no momento atual do mercado de criptomoedas, tudo o que menos precisamos é de teoria da conspiração. A situação macroeconômica já está ruim demais, a dependência do meio cripto dos Estados Unidos é outro grande problema, sem contar a mania de políticos lançarem suas memecoins.

Agora, é hora de trabalharmos com fatos e não com achismos, pois isso de nada serve para ajudar investidores iniciantes ou menos experientes, que são os mais afetados com essas teorias.

Saindo do lado da emoção e pensando com a razão, ao ler o documento do iShares Bitcoin Trust, você verá que a BlackRock ter o poder de escolha de qual rede ela seguirá não quer dizer que ela esteja planejando um fork no BTC.

O documento apenas estabelece que a gestora está adotando um mecanismo de salvaguarda de que, se, porventura, ocorrer um hard fork, ela terá a autoridade para escolher, de forma exclusiva e baseada em critérios que julgar pertinentes, qual das redes será considerada oficial para os propósitos do Trust.

Enquanto escrevo este artigo, não há evidências de que a BlackRock pretenda iniciar ou provocar um fork; ela simplesmente se prepara para agir caso tal evento aconteça. Agora, se essa decisão vai influenciar o mercado do BTC ou não, é outro assunto.

Já sobre as teorias de manipulação de mercado, o que posso dizer é que o que vocês esperavam que iria acontecer com a entrada de um player que gere US$ 10 trilhões em ativos no meio cripto? Nada? Seria só lua para o bitcoin? É claro que os passos dados pela empresa vão ditar tendência de mercado, e eu venho criticando esses fundos antes mesmo de serem lançados.

A concentração de poder em poucos ETFs (o IBIT responde por 72% do volume) permite que movimentos grandes distorçam o mercado, principalmente se houver conflitos de interesse (ex.: BlackRock ter posições em outras áreas que se beneficiam da volatilidade).

No entanto, é preciso dizer que a BlackRock está apenas cumprindo seu papel de gestora, ajustando o fundo conforme a demanda dos clientes. Se os resgates são legítimos (investidores temendo quedas, por exemplo), não há ilegalidade.

Nesse sentido, com as vendas do IBIT, o impacto da gestora é uma consequência natural dos mecanismos de mercado. A venda para atender a resgates pressiona o preço temporariamente, mas não significa que a BlackRock esteja manipulando o BTC de forma intencional (mesmo que você queira muito afirmar isso, não passa de uma teoria quando não há provas).

Lembre-se que para que um ETF SPOT consiga acompanhar o preço de um ativo, seu gestor precisa mesmo realizar operações de compra e venda.

Este artigo pode não ter acabado como você queria, mas é preciso lembrar que eu o escrevi com base nas evidências que temos agora e para clarear a mente de novos investidores que têm esse medo, não é uma defesa à BlackRock.

Caso o cenário mude de alguma maneira e haja não apenas teorias, mas sim comprovações de que a BlackRock está agindo com alguma irregularidade no mercado do bitcoin, pode ter a certeza de que essa matéria sairá em meu nome também.

Leia mais: Acabou! O mercado de criptomoedas está caindo por causa dos grandes players, aponta analista

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