Por um gênio, PhD em física teórica e cripto
Era uma noite tranquila em Pasadena, e como todo gênio socialmente funcional e amante de cripto faria, aceitei o convite para o jantar em família na casa dos meus pais. Entre uma garfada de purê de batatas e outra de frustração gastronômica, mencionei casualmente que não iria vender meus $ORDI tokens porque “o halving da rede do Bitcoin estava se aproximando e os mineradores estavam reavaliando os incentivos de consenso”.
Minha mãe largou o garfo, minha tia achou que eu estava falando de uma dieta nova, e meu primo achou que “halving” era um tipo de chute no futebol.
Foi então que percebi: viver no universo cripto é como ser um astronauta tentando explicar física quântica em uma feira de adoção de gatos. A seguir, apresento uma lista das atividades perfeitamente lógicas no mundo blockchain que fazem minha família questionar se eu realmente tenho um diploma ou apenas um chapéu engraçado de formatura.
1. Debater forks no almoço de domingo
“Não, tia Carol, não é sobre garfos de verdade. E não, também não é sobre jardinagem”. Forks são divisões na blockchain. Para quem vive disso, é como uma reforma constitucional em tempo real. Para minha família, é só mais uma prova de que eu deveria passar menos tempo na internet e mais tempo na igreja.
2. Comprar JPEGs por preços de carro usado
“Sim, vovó, eu realmente paguei tudo isso por uma imagem de um macaco com boné”. Tentativas de explicar NFTs só resultam em olhares de pena e em perguntas sobre minha saúde mental. Na próxima ceia, levarei um PowerPoint. E um capacete.
3. Ficar animado com atualizações de protocolo
Nada aquece meu coração como a frase: “O Ethereum vai migrar do Proof-of-Work para o Proof-of-Stake”. Mas quando soltei isso no churrasco, minha família achou que eu estava falando de dieta vegana. Não estava. Mas bem que poderia.
4. Usar o X como bolsa de valores
“Ah, você viu o que o Vitalik postou? Isso pode mover o mercado!” Minha mãe acha que Vitalik é um vilão russo de novela. Meu pai, mais prático, acha que eu deveria parar de seguir estranhos e começar a seguir uma carreira.
5. Ter uma carteira que não cabe no bolso
Tentei explicar que perder minhas doze palavrinhas mágicas é como perder meu cofre inteiro. Meu tio sugeriu que eu as tatuasse no braço. Eu ri. Ele não.
6. Entrar em DAO como se fosse um clube secreto
Uma DAO é uma organização descentralizada autônoma. Tentei usar a analogia de um clube onde todos têm voto e ninguém tem chefe. Meu avô disse que isso é anarquia e que no tempo dele quem mandava era o gerente do banco.
7. Ficar feliz quando tudo cai 30%
“É promoção, mãe! Agora é hora de acumular”. Eu gritei isso no meio da feira. Não foi meu momento mais brilhante. Minha família achou que eu tinha surtado. Talvez eu tenha.
8. Explicar o que é “staking” com metáforas agrícolas
Eu tentei. Disse que é como plantar suas moedas para colher mais moedas. Minha prima perguntou se eu estava em algum tipo de pirâmide. Respondi que não. Mas também não quis explicar o que foi o caso da Terra/Luna.
9. Trocar reais por tokens com nomes suspeitos
“Mãe, investi em Shiba Inu, depois converti pra Cake, mas agora estou apostando no $PEPE”. Ela não respondeu. Apenas saiu da sala e voltou com um folder de terapia ocupacional.
10. Celebrar quando o gas fee está abaixo de 5 gwei
Fiquei genuinamente empolgado e bati palmas na frente da família. Ninguém entendeu. Minha tia achou que “gas fee” era uma promoção no posto Shell.
Conclusão: missão didática impossível
No fim das contas, tentei sentar com minha família e explicar o que é staking, DAOs, forks e NFTs usando uma lousa, um fluxograma e meu sólido dom de oratória. Mas percebi que teria mais sucesso ensinando teoria das cordas para um gato persa dopado. Talvez cripto realmente seja nosso Esperanto digital: cheio de esperança, mas incompreensível para todos que não passaram tempo demais na internet.
Por via das dúvidas, na próxima ceia, levarei uma sobremesa e evitarei comentar sobre protocolos DeFi. Mas se a sobremesa for um bolo com o logotipo do Ethereum? Bom, aí a culpa é do confeiteiro, não minha.
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