No discurso desta quinta-feira (15), durante a conferência Thomas Laubach Research, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, fez uma avaliação sobre o cenário econômico atual e os próximos passos da política monetária dos Estados Unidos (EUA).
Powell destacou que o país pode estar entrando em uma nova fase, marcada por choques de oferta mais frequentes e duradouros — o que representa um desafio para a estabilidade econômica e a atuação dos bancos centrais.
Nesse caso, ele está se referindo a situações em que há interrupções ou dificuldades na produção e distribuição de bens e serviços. Isso pode acontecer por vários motivos: taxas altas, guerras, pandemias, problemas climáticos, crises de energia ou gargalos na cadeia de suprimentos — como os que vimos durante a pandemia de Covid-19.
Esses choques afetam a economia de forma direta, porque fazem os preços subirem (inflação), mesmo quando a demanda das pessoas não está aumentando, algo bem diferente da inflação comum, que normalmente ocorre quando a demanda por produtos está muito alta. E esse tipo de inflação, causada por choques de oferta, é mais difícil de controlar com a política monetária tradicional, que geralmente atua sobre a demanda (aumentando ou diminuindo juros, por exemplo).
Powell está dizendo, então, que se esses choques de oferta se tornarem mais comuns e durarem mais tempo, o trabalho dos bancos centrais fica mais complicado, porque eles vão precisar adaptar suas estratégias para lidar com uma economia mais instável e imprevisível.
Revisão da estratégia de política monetária
O banqueiro disse que o Fed está revisando sua estratégia de política monetária para adaptar-se a essas transformações. Segundo ele, é necessário atualizar a estrutura de atuação do banco central periodicamente, à medida que a economia e o entendimento sobre ela evoluem. Um dos pontos dessa revisão é reconhecer as mudanças nas perspectivas de inflação e juros desde 2020.
Powell também disse que os juros reais — ou seja, a taxa de juros descontada da inflação — estão mais altos agora do que estavam no passado. E isso pode ser um sinal de que a inflação tende a ser mais instável nos próximos anos, variando mais do que estamos acostumados a ver.
Durante a década de 2010, a economia global viveu um período de inflação muito baixa e estável. Naquela época, os economistas acreditavam que, se a inflação ficasse abaixo da meta por um tempo (em momentos de fraqueza econômica), ela voltaria a subir lentamente e de forma controlada, sem causar grandes preocupações.
Mas, depois da pandemia e da guerra na Ucrânia, os preços começaram a subir de forma rápida e forte, e essa velha ideia de que a inflação sempre voltaria ao “normal” com calma perdeu força. Powell está basicamente dizendo: os tempos mudaram. Agora, a inflação pode subir e descer com mais intensidade e mais frequência.
Mesmo assim, Powell reafirmou o compromisso do Fed com a meta de inflação de 2% ao ano. Ele enfatizou que manter as expectativas bem ancoradas é importante para o trabalho do banco central.
Embora não tenha se aprofundado em política monetária atual ou nas projeções econômicas, o advogado afirmou esperar que o índice de inflação de gastos com consumo pessoal (PCE) de abril fique em 2,2%, o que ainda não incluiria impactos de tarifas recentemente impostas. Mesmo assim, classificou o número como uma realização histórica incomum de desinflação sem danos à economia: um “pouso suave”.
Outro ponto importante do discurso foi o reconhecimento de que há uma incerteza sobre os rumos da economia. Powell defendeu que o Fed precisa comunicar melhor essas incertezas ao público e que a forma como a instituição trata temas como escassez de mão de obra e inflação média deve ser revista.
Apesar das frequentes críticas públicas de Trump ao Fed, Powell deixou claro que decisões da autoridade monetária não são influenciadas por pressões políticas externas. Em seu discurso de abertura da revisão estratégica, não houve referência ao presidente dos EUA.
Após a crise financeira de 2008, o Federal Reserve manteve sua taxa básica de juros em torno de zero por sete anos. Desde dezembro de 2024, a taxa overnight tem oscilado entre 4,25% e 4,5%, sendo negociada mais a 4,33%, já que o banco central dos EUA tem hesitado em flexibilizar a política monetária após reduzir sua taxa básica em um ponto percentual no ano passado.
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