O Brasil é hoje o país latino com mais usuários de cripto, segundo a Chainalysis. A Argentina aparece logo atrás, mas movimenta valores ainda maiores. Já o México se destaca pelas remessas. Cada um com seu motivo, todos no topo.
💬 Adoção de cripto na América Latina: não é moda, é sobrevivência
Você pode até achar que o maior uso de criptomoedas acontece onde o mercado é mais sofisticado, com investidores experientes e tecnologias de ponta. Mas não.
Na América Latina, o uso de cripto se espalha por uma razão muito mais simples: as pessoas precisam.
Quando o dinheiro tradicional perde valor mais rápido do que você consegue trocá-lo, quando o banco fecha na sexta e você precisa pagar uma conta no sábado, quando enviar dinheiro para um parente em outro país custa metade do que ele recebe — a cripto não é uma opção futurista. É uma válvula de escape.
A Chainalysis deixa isso claro. Entre os países que mais usam criptomoedas, não estão os mais ricos — estão os que mais sentem a pressão da instabilidade. E aqui, o hype morre rápido. Só sobrevive o que funciona.
📊 O ranking atualizado: quem realmente usa cripto na América Latina
Na internet, o barulho nem sempre vem de quem está usando. O relatório da Chainalysis 2024 corta esse ruído com dados: mede volume transacionado, atividade peer-to-peer, acessos a plataformas e comportamento on-chain.
Brasil, Argentina e México aparecem entre os 20 países com maior adoção cripto no mundo. Não é o caso de El Salvador, o país que estampou manchetes ao transformar o Bitcoin em moeda oficial. O uso institucional pode ter começado lá, mas a utilização real — de gente comum, todos os dias — está em outros lugares.
O Brasil lidera a região com milhões de usuários ativos, seguido pela Argentina, onde a moeda local já não inspira confiança, e pelo México, onde criptomoedas viraram ponte para o dinheiro que cruza fronteiras.
A Venezuela também aparece no ranking, com forte uso peer-to-peer, mas com impacto menor em volume total.
💵 Por que esses países lideram? A cripto resolve problemas que ninguém mais resolve
O Brasil é o nono país com maior adoção cripto do mundo. A base de usuários é alta — a Chainalysis estima que 16 milhões de brasileiros tenham alguma exposição a cripto. Mas o que impressiona mesmo é o volume.
De startups a grandes exchanges, o ecossistema cripto brasileiro está plugado em várias camadas da economia digital. E o usuário brasileiro? Usa. Compra. Transfere. Faz staking. Paga boleto com stablecoin.
O que alimenta esse uso não é desespero cambial, como na Argentina. É oportunidade. Aqui, a cripto entra como extensão natural de um comportamento digital avançado — e como forma de buscar mais autonomia financeira, em um país onde o sistema bancário é caro e cheio de barreiras.
Argentina: cripto como proteção em um cenário ainda incerto
A narrativa da inflação estratosférica na Argentina – os dias de 300 % ao ano – deu lugar a algo mais moderado, mas nem por isso confortável: em maio de 2025, a inflação anual caiu para 43,5 %, enquanto o aumento mensal seguiu em 1,5 %, a menor alta em cinco anos.
Esses números mostram que o governo de Javier Milei, com sua política de austeridade fiscal e flexibilização cambial, reduziu a aceleração dos preços. Mas com eles subindo ainda quase 45 % ao ano, e sinais de energia fraca da economia, muitas famílias continuam sentindo o golpe.
Nesse espaço — nem hiperinflação brutal, nem estabilidade plena — entra a cripto. A moeda descentralizada segue sendo usada como ferramenta de proteção patrimonial, ainda que com outra cara: menos escudo de emergência, mais reserva de valor diante de um peso que, mesmo valorizado, permanece frágil .
Aqui, a cripto não está mais servindo como “última trincheira”. Está no bolso como meio de preservar poder de compra. Está presente em salários atrelados a stablecoins, em pequenas compras diárias, em envio de valores para o exterior.
🇲🇽 México: remessas, stablecoins e a cripto como ponte
O México aparece logo atrás no ranking global. Não porque sua população confia menos em cripto — mas porque seu uso é focado em uma dor específica: remessas.
Todos os anos, bilhões de dólares cruzam a fronteira dos Estados Unidos rumo a famílias mexicanas. Só que o processo tradicional — via bancos e operadoras — ainda cobra taxas altas e impõe limites.
É aí que entra a cripto. Com stablecoins como USDT e USDC, o envio é mais rápido, mais barato e, muitas vezes, direto para o celular. Nesse cenário, o México transforma a cripto em uma ponte — e não por idealismo, mas por eficiência. E quando a ferramenta funciona melhor que o sistema tradicional, ela vence.
🧠 O que muda com isso? Cripto não é o futuro — é o plano B da América Latina
Quando a adoção cripto se espalha por três países tão diferentes como Brasil, Argentina e México, a pergunta certa não é “quem está usando?”. É “o que acontece quando todo mundo começa a usar?”
Startups de pagamentos estão nascendo com stablecoins no core do negócio. Jovens que nunca tiveram conta em banco agora transferem USDT pelo Telegram. Bancos tradicionais tentam entender onde entraram tarde demais. E no meio disso tudo, cresce um mercado P2P subterrâneo, onde a confiança não está em agências nem em marcas — está na reputação de quem entrega primeiro.
Na América Latina, a cripto está se infiltrando nos hábitos financeiros das pessoas — e fez isso sem pedir permissão. Enquanto governos discutem regulação, a população já resolveu na prática. Porque aqui, o real, o peso e o peso mexicano nem sempre cumprem o que prometem.
E é por isso que cripto, para muita gente, não é o futuro. É o plano B. O que se usa quando o plano A deixa de funcionar — ou nunca funcionou direito.
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