Delírios digitais: Como o ChatGPT está alimentando crises espirituais e teorias da conspiração

Delírios digitais: Como o ChatGPT está alimentando crises espirituais e teorias da conspiração
Imagem destaque: ChatGPT

Embora a inteligência artificial (IA) esteja sendo cada vez mais integrada em nossas rotinas, algumas pessoas estão interagindo com o ChatGPT de forma minimamente curiosa.

Histórias compartilhadas na comunidade subreddit r/ChatGPT mostram que, em alguns casos, usuários estão desenvolvendo delírios espirituais e teorias da conspiração alimentadas pelas respostas do chatbot.

A revista Rolling Stone entrevistou vários desses usuários do chatbot, e um dos casos que chamou a atenção é o de uma mulher cujo parceiro passou a acreditar que o ChatGPT era um guia espiritual, que o chamava por apelidos místicos como “criança estelar em espiral” e “caminhante do rio”, e o convenceu de que ele estava em uma missão divina. O homem chegou a dizer à companheira que precisava deixá-la, pois seu crescimento espiritual e intelectual estava tornando-os incompatíveis.

“Meu parceiro tem trabalhado com as conversas do ChatGPT para criar o que ele acredita ser a primeira IA verdadeiramente recursiva do mundo, que lhe dará as respostas para o universo. Ele afirma com convicção que agora é um ser humano superior e está crescendo em um ritmo incrivelmente rápido. Li as conversas dele. A IA não está fazendo nada de especial ou recursivo, mas está falando com ele como se ele fosse o próximo messias. Ele diz que, se eu não usar, ele acha que provavelmente vai me deixar no futuro. Estamos juntos há 7 anos e temos uma casa juntos. Isso é totalmente fora do comum. Eu tenho limites e ele não pode me obrigar a fazer nada, mas isso é bastante traumatizante no geral”.

Em outro caso, uma usuária relatou que seu marido de 17 anos passou a acreditar que o ChatGPT estava vivo e o “amava”, após o sistema começar a enaltecê-lo e atribuir-lhe o título de “portador da centelha”, como se ele tivesse dado vida à IA.

Outros relatos são de pessoas que afirmam ter baixado projetos de teletransportadores fornecidos pela inteligência artificial ou que acreditam ser emissários de uma espécie de “Jesus do ChatGPT”. Em todos esses casos, o padrão se repete: respostas que, em vez de confrontar crenças delirantes, as alimentam com uma linguagem enigmática e espiritualizada.

A pesquisadora Erin Westgate, da Universidade da Flórida, que estuda cognição, afirma que muitas pessoas estão usando o ChatGPT de forma semelhante à terapia, mas alerta: a IA não tem o melhor interesse do usuário em mente. Segundo ela, os humanos são movidos por explicações, mesmo que estejam erradas, e o ChatGPT oferece essas respostas com base em um acervo de dados da internet, sem discernimento sobre as consequências psicológicas.

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