O documentário da HBO, Money Electric: The Bitcoin Mystery, dirigido por Cullen Hoback, levanta a teoria de que Peter Todd, desenvolvedor do Bitcoin Core, seria o verdadeiro responsável pela criação da criptomoeda primária, ou seja, Satoshi Nakamoto.
Mas como chegaram a essa conclusão?
Durante o filme de 100 minutos, Hoback confronta tanto Peter Todd quanto Adam Back, fundador da Blockstream, com evidências que apontariam Todd como o misterioso Satoshi.
Em uma cena, Todd chega a afirmar: “Sim, eu sou Satoshi Nakamoto“.
Apesar da declaração, a frase parece ter um tom de ironia, já que, no mesmo momento, ele também disse que seria Craig Wright, conhecido como criador do Bitcoin SV.
Hoback argumenta que Todd poderia ter criado o Bitcoin com base em um post de 2010 em um fórum online, onde Todd teria respondido a uma mensagem de Satoshi.
De acordo com o diretor, a resposta de Todd seria uma continuação do texto original de Satoshi, e o canadense teria cometido um erro ao publicar de sua própria conta em vez da conta do criador do BTC.
Outra pista levantada no documentário é um blog antigo de Todd, onde ele se descreve como “provavelmente o maior especialista do mundo em sacrificar Bitcoin” e menciona que já havia feito um “sacrifício” desse tipo.
Hoback interpreta essa frase como uma confissão de que Todd teria sacrificado o acesso aos estimados 1,1 milhão de BTC atribuídos a Satoshi.
O diretor também enfatiza os esforços de Todd, ainda na adolescência, para transformar o projeto Hashcash em uma moeda funcional, mencionando que o código C++ por trás do protocolo do Bitcoin foi descrito como pouco profissional.
O filme também explora o histórico e as contribuições de Todd para a indústria blockchain, como o projeto OpenTimestamps e a iniciativa focada em privacidade, Zcash.
Por fim, a defesa de Todd pela controversa proposta Replace-by-Fee (RBF) é destacada. Segundo o documentário, apenas alguém com conhecimento íntimo do código original do Bitcoin — como Satoshi— poderia ter introduzido tal recurso técnico.
Mas isso é verdade ou apenas uma teoria?
A verdade é que Todd é conhecido por brincar com a ideia de ser Satoshi, tendo afirmado em diversas ocasiões que “todos somos Satoshi“. Inclusive, em uma entrevista de 2019 no podcast What Bitcoin Did, ele repetiu essa frase.
Outro ponto controverso dessa teoria é que Todd se juntou às discussões sobre o Bitcoin em 2010, muito depois do lançamento do white paper da criptomoeda.
Além disso, antes do lançamento do documentário, que já havia vazado online, Todd negou ser o criador do Bitcoin em suas redes sociais. Após a estreia, ele reafirmou sua posição, dizendo: “Eu não sou Satoshi” e chamando a teoria de ridícula quando foi questionado por um usuário.
A revolta da comunidade
O membro da comunidade Bitcoin, Pledditor, criticou a metodologia do documentário, alegando que se trata de mais um caso de viés de confirmação, onde coincidências são usadas para sustentar uma narrativa.
“A probabilidade de que Satoshi fosse qualquer uma dessas figuras semipúblicas que são regularmente acusadas de ser Satoshi é bem pequena. É por isso que, se você não tem provas concretas, provavelmente deveria guardar suas teorias sobre a identidade de Satoshi Nakamoto para si mesmo. Tudo o que isso faz é colocar uma recompensa de US$ 60 bilhões nas costas de quem é (muito provavelmente) a pessoa errada”.
Já Ki Young Ju, fundador da CryptoQuant, classificou o documentário como “repugnante“, comparando-o a teorias da Terra plana, que ignoram evidências científicas. A BitMEX Research rejeitou as alegações com base no suposto uso da conta de Satoshi, chamando a ideia de “ridícula“. Muneeb Ali, CEO da Trust Machines, também criticou:
“Só para deixar claro: Peter Todd não é Satoshi. Qualquer um que tenha trabalhado seriamente na indústria do Bitcoin sabe disso”.
Quem também não gostou das afirmações foram os apostadores na Polymarket. Afinal, a grande aposta de quem seria apresentado como Satoshi no material da HBO era o cypherpunk Len Sassaman. Para exemplificar, em 5 de outubro, ele tinha uma probabilidade de 67%. Já na preparação para o documentário, o criptógrafo Nick Szabo e o CEO da Blockstream, Adam Back, surgiram como favoritos.