Quem diria que o dia em que eu defenderia a Solana (SOL) chegaria. Mas antes, é preciso destacar que este não é um conteúdo de dica de investimento. Tudo o que eu vou dizer é o porquê de eu achar que a altcoin ainda tem muito espaço para crescer no mercado de criptomoedas e deixar, quem sabe um dia, de ser um terreno fértil para memecoins.
O início de um sonho (ou pesadelo)
A Solana é uma Layer 1 que nasceu com o intuito de oferecer uma blockchain mais eficiente que o Ethereum (ETH) em termos de custos e velocidade. Essas metas eram alcançadas pela altcoin com louvor em seu início, pois ela não era muito utilizada.
No entanto, quando a rede do Ethereum começou a crescer muito, a ponto de ficar insustentável pagar altas taxas para uma simples transação, o mercado pensou: por que não usar essa cripto aqui? E foi assim que o ativo destaque do nosso artigo ganhou seu lugar ao sol (me perdoe o trocadilho, mas eu sempre quis uma oportunidade de fazê-lo).
Só que toda essa atenção custou caro, pelo menos para os usuários da Solana. Isso porque a altcoin simplesmente não aguentava a pressão e só travava. Esse problema ocorreu diversas vezes, mas vou dar apenas alguns exemplos para que você possa entender melhor.
Setembro de 2021: interrupção de 17 horas
A exchange descentralizada (DEX) Raydium, que funciona na Solana, estava realizando muitas operações de IDO, que são lançamentos de tokens em plataformas DeFi, e isso causou um congestionamento tão grande que a rede da SOL ficou paralisada por 17 horas.
Maio de 2022: 7 horas OFF
A Solana enfrentou uma interrupção de sete horas devido a um alto volume de transações geradas por bots no Candy Machine, plataforma usada para lançamentos de NFTs. Com um recorde de quatro milhões de transferências por segundo, totalizando 100 gigabits de dados, a blockchain ficou congestionada, levando à exclusão dos validadores do consenso. A rede só foi restaurada após os validadores conseguirem reiniciar o Mainnet Beta com sucesso.
Junho de 2022: 4h30 fora do ar
A rede Solana sofreu seu sétimo apagão apenas naquele ano, devido a um erro de consenso causado por um bug no recurso de transações nonce duráveis. O problema impediu a propagação de novos blocos, levando os desenvolvedores a interromper a rede e solicitar que os validadores atualizassem seus softwares. O apagão durou cerca de 4h30, afetando todos os serviços dependentes da rede. Após a reinicialização, os sistemas começaram a ser restaurados.
Vou parar por aqui, pois se for relatar todas as vezes que a Solana ficou off, este artigo não acaba nunca. Contudo, acho que, nesse último bug, é preciso fazer uma breve explicação do que aconteceu exatamente.
Normalmente, quando você faz uma transação na rede Solana, ela precisa ser confirmada rapidamente, porque depende de um número chamado nonce, que está ligado aos blocos mais recentes da blockchain. Se demorar muito, a transação expira e você precisa enviá-la de novo.
As transações nonce duráveis foram criadas para resolver isso. Elas permitem que a transação continue válida por mais tempo, sem depender dos blocos recentes, evitando que uma transação falhe só porque demorou um pouco para ser processada.
O problema é que, no dia 1º de junho de 2022, um erro nesse sistema fez com que os validadores chegassem a resultados diferentes sobre o que era válido ou não, o que bagunçou a rede e causou o apagão.
Como resolver esse problema?
Com todas essas falhas, a equipe da Solana chegou a uma conclusão simples: a rede não está pronta para ser, de fato, utilizada por muitas pessoas. Sendo assim, para resolver esse problema, surgiu o Firedancer, que deve ser lançado na rede da altcoin em sua totalidade este ano (2025), primeiro ponto que me faz ter outro olhar para esta criptomoeda.
O Firedancer é uma promessa de melhoria para o desempenho da rede da SOL. Ele deve aumentar a velocidade das transações e tornar a rede mais estável, com mais diversidade de clients, software que permite que os usuários interajam com uma blockchain.
Quando a Solana foi criada, a equipe não tinha todos os recursos para testar tudo direito, e o código era muito complexo, o que levou aos problemas mencionados. Segundo o fundador da Solana, Anatoly Yakovenko, o Firedancer é o client que eles deveriam ter feito desde o início, se tivessem mais recursos. É como construir uma casa sem um plano bem definido – o Firedancer é uma versão muito melhor e mais organizada do validador da Solana.
Até agora, o client foi testado em algumas demonstrações, e os resultados foram muito bons. Por exemplo, em um teste ele conseguiu processar 21,8 Gbps de transações, enquanto o client da Solana Labs na época tinha como meta apenas 1 Gbps.
No entanto, isso não significa que a Solana vai magicamente processar um milhão de transações por segundo. O objetivo desses testes foi mostrar que o Firedancer não será um “gargalo” (ou seja, não vai atrapalhar o desempenho) e não vai exigir muito poder de processamento. A grande vantagem é que ele foi otimizado para ser mais eficiente, sem precisar de hardware mais caro ou complexo. Na verdade, ele pode até reduzir os requisitos de hardware.
Com os testes do Firedancer, a Solana já conseguiu realizar um feito bem importante para sua rede: um ano sem ficar fora do ar, sua sequência mais longa de todos os tempos.
Uma nova aposta para o DeFi
Ao lado do Firedancer, a Solana pode se destacar ainda mais, beneficiando-se do conceito de liquidez condicional (CL).
O CL chegou ao mercado das finanças descentralizadas (DeFi) para permitir que a liquidez, dinheiro disponível para negociações, só seja usada se certas condições forem atendidas. No caso da Solana, a condição principal é que a ordem de compra ou venda seja feita por um usuário “não tóxico” — ou seja, um usuário comum, como você ou eu, e não um robô ou um trader profissional que tenta explorar o mercado.
Aqui, a liquidez só pode ser usada se a ordem de compra ou venda for endossada por um aplicativo conhecido, como carteiras (Phantom, Solflare) ou dApps de negociação (Drift, Kamino, Jupiter). Como resultado, bots não conseguem acessar essa liquidez, porque suas ordens não são endossadas por esses aplicativos.
Mas por que isso é importante?
Os market makers (MMs) — que são os responsáveis por fornecer liquidez ao mercado — odeiam ser “pegos” com cotações desatualizadas. Afinal, eles não querem que suas ofertas de compra ou venda sejam aproveitadas por robôs ou traders profissionais que têm informações mais rápidas.
Com a CL, os MMs podem ter certeza de que estão lidando com usuários comuns e não com grandes players, como grandes empresas de trading, o que torna o mercado mais justo e seguro para os investidores.
Benefícios da liquidez condicional
- Spreads mais apertados: com a CL, os MMs podem oferecer spreads mais apertados, fazendo com que a diferença entre o preço de compra e venda seja menor para usuários comuns. Resumindo: as negociações ficam mais baratas.
- Menos risco: como os MMs sabem que estão lidando com pessoas reais, eles têm menos medo de serem “pegos” com cotações desatualizadas, o que os incentiva a oferecer melhores preços.
Múltiplos líderes simultâneos
Antes de eu falar sobre o terceiro motivo que me fez mudar de opinião sobre a Solana, um termo precisa ser explicado para que todos estejam na mesma página: takers.
No mercado financeiro, takers são os participantes que aceitam as ofertas disponíveis no livro de ordens, comprando ou vendendo ao preço que já está sendo oferecido. Esses investidores são o oposto dos makers, que são os fornecedores de liquidez, aqueles que colocam as ordens no mercado.
Dito isso, no mercado tradicional (TradFi), o processo para determinar o preço de um ativo acontece em um único servidor, geralmente localizado perto das bolsas, como Nova Jersey. Nesse sentido, se você está em outro lugar do mundo, por exemplo, em Singapura, e vê uma notícia que pode impactar o preço de um ativo, sua ordem ainda precisa ser enviada para o servidor nos EUA para ser processada.
Esse sistema é injusto para os takers (usuários comuns), porque eles estão em desvantagem em relação aos traders profissionais que estão fisicamente próximos dos servidores das bolsas e que conseguem agir rapidamente e capturar o lucro gerado por informações novas antes que o preço seja atualizado.
Atualmente, a Solana (como outras blockchains) tem um único líder que valida as transações em um determinado momento. No entanto, a altcoin está se movendo para um sistema com múltiplos líderes simultâneos (MCL), onde haverá dezenas de líderes validando transações ao mesmo tempo, em diferentes partes do mundo.
Com o MCL, se você estiver em Singapura e observar uma notícia que impacta o preço de um ativo, poderá enviar sua ordem para um validador local, em vez de ter que enviá-la para os EUA, reduzindo o tempo que leva para a ordem ser processada e permitindo que a informação seja incorporada ao preço do ativo mais rapidamente.
Superando o Ethereum
Por fim, a última razão que me faz estar mais otimista em relação à Solana é que ela está superando o Ethereum em diversas métricas on-chain. Vou te dar alguns exemplos.
A Solana dominou o mercado de DEX em janeiro, superando, e muito, o Ethereum em volume de negociação.
No mês passado, a Solana também foi a blockchain líder em receita.
O Dune Index rastreia a adoção on-chain combinando e normalizando métricas-chave na mesma escala. Em 2021, o Ethereum compôs 60% do índice, com a Solana em 4%. Hoje, a SOL lidera com 43%, e o ETH caiu para 16%.
E claro, por que não falar do crescimento da própria Solana.
Há apenas um ano, a receita do aplicativo SOL era de US$ 300 mil por dia. Agora, está chegando a US$ 30 milhões, um aumento de 100x.
Futuro da Solana: muito mais que uma narrativa de memes
Certamente você está pensando, e com razão, que todo esse sucesso da Solana vem das memecoins. No entanto, em vez de olhar para essas criptos apenas como algo ruim, pense que elas são muito importantes para aumentar a visibilidade e o uso da altcoin.
Além disso, é por meio desses tokens que a equipe da SOL consegue enxergar os problemas que ainda precisam ser resolvidos na rede. Por exemplo, o lançamento das memecoins TRUMP e MELANIA mostrou o quanto a Solana precisa evoluir, pois, embora não tenha ficado fora do ar, a rede estava muito lenta e cara.
O estresse em blockchains faz com que esses defeitos apareçam em tecnologias descentralizadas. Contudo, a Solana, além de não ser descentralizada, se propõe a não ter essas dificuldades, por isso esse congestionamento precisa ser vencido.
Outro ponto é que, com a evolução do mercado e os investidores dando menos atenção para as memecoins, a Solana pode crescer em outras áreas. Atualmente, ela é a melhor opção para liderar o universo DeFi, NFT e aplicativos de grande escala.
Não se esqueça de que o Ethereum também teve sua fase de especulação intensa com ICOs em 2017 e com DeFi em 2020, e hoje é a rede principal para aplicações institucionais e empresariais. O mesmo pode acontecer com a Solana, dependendo da evolução do ecossistema e do empenho da equipe da altcoin em focar em atrair projetos mais sérios.
Sobre a SOL ultrapassar o ETH em capitalização de mercado, apenas o tempo dirá, mas uma coisa é certa: subestimá-la pode ser um erro.
Fontes: Multcoin, DeFiLlama, CryptoRank e Delphi.
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