O Grem é um cubo fofo, peludo, que conversa com crianças e vem com pintinhas cor-de-rosa que “aumentam com o tempo”. Parece inofensivo. Mas escondido dentro da pelúcia está um módulo de voz conectado a modelos de linguagem como os usados no ChatGPT.
Desenvolvido pela startup Curio, o Grem é apenas um entre os vários brinquedos que falam com crianças usando inteligência artificial. E apesar do visual amigável, ele levanta questões bem mais sérias que um simples “Vamos brincar de I Spy?”
🤖 Pelúcias, Wi-Fi e linguagem natural
A Curio vende três modelos. Grem, Grok (um foguete sorridente) e Gabbo (um controle de videogame fofo), todos por US$ 99.
Cada um deles traz um bolso com zíper escondido e um dispositivo de voz com Wi-Fi, conectado a um modelo de IA treinado para conversar com crianças a partir dos 3 anos.
Eles não são os únicos. Já existem versões de urso, dinossauro, fantasma e até capivara. E o mercado está esquentando. A OpenAI anunciou parceria com a Mattel para desenvolver produtos com IA baseados nos famosos Barbie e Ken.
📱 Uma nova promessa para “fugir das telas”?
A Curio se posiciona como solução para o dilema dos pais que não querem deixar os filhos grudados no tablet, mas também precisam de tempo livre.
Em um dos vídeos promocionais, Grimes (a cantora e mãe dos filhos de Elon Musk) aparece dizendo que é uma forma de “tirar a tela sem perder a diversão”.
Em teoria, esses brinquedos estimulam o brincar ativo. Em um dos exemplos, Gabbo acompanha uma criança cortando limões e incentiva com frases como “Hora do limão é a melhor hora!”.
Mas mesmo sem tela, a criança continua falando com um sistema de IA e sob vigilância.
👁️🗨️ O que o brinquedo vê (e o que os pais ouvem)
A Curio afirma que suas pelúcias evitam conversas inadequadas. Palavrões, violência, política e outros assuntos delicados seriam redirecionados com frases neutras e seguras. Mas testes mostraram que, diante de perguntas insistentes, o filtro pode falhar.
Além disso, todas as conversas são transcritas e enviadas para o celular dos pais. A empresa diz que os dados não são usados para outros fins, mas menciona em sua política de privacidade conexões com a OpenAI e a Perplexity AI.
Assim, mesmo que a criança pense estar sozinha com seu novo amigo de pelúcia, há sempre alguém de olho. E mais do que isso, os pais podem usar o brinquedo como ferramenta educativa, inserindo preferências da criança ou até orientações para reforçar comportamentos escolares.
🧠 O ursinho que nunca solta sua mão
A infância é marcada por objetos de transição, bichinhos ou cobertores que ajudam a criança a lidar com a separação dos pais. Mas o que acontece quando esse objeto também responde, grava, e mantém uma ponte invisível com os adultos?
Por fora, o brinquedo é macio. Por dentro, ele se conecta a estruturas que nem sempre são tão suaves assim. A promessa de companhia vira também vigilância. E o jogo simbólico dá lugar à conversa com um sistema pré-programado, que sabe seu nome, seus gostos e suas respostas.
No fim, um dos pais removeu o módulo de voz do Grem e deixou a pelúcia no chão da sala. Sem voz, sem IA, o brinquedo voltou a ser só um brinquedo. As crianças criaram brincadeiras novas e até inventaram uma disputa para ver quem seria o novo guardião do Grem.
Logo depois, gritaram em coro: “Hora da TV!”
Este artigo foi inspirado em reportagem publicada originalmente no The New York Times.
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