As últimas semanas têm sido um verdadeiro teste de resistência para os investidores de criptomoedas, pelo menos os mais antigos. Os novos integrantes desse mercado devem estar desesperados com toda essa liquidação que a queda do bitcoin (BTC) e das altcoins causou.
No último final de semana, após o BTC cair abaixo de US$ 100 mil, o mercado enfrentou um evento de liquidação surreal, com perdas que podem ter atingido entre US$ 8 bilhões e US$ 10 bilhões, valor muito superior aos US$ 2,3 bilhões inicialmente registrados por plataformas de rastreamento.
A discrepância nos números foi apontada por Ben Zhou, fundador e CEO da Bybit, que explicou que as limitações nas APIs das exchanges impediram a divulgação completa da dimensão das liquidações.
De acordo com a Coinglass, as liquidações totalizaram US$ 2,3 bilhões em várias exchanges durante o forte movimento de vendas do mercado. No entanto, o que chama a atenção para que esse número seja maior é que a Bybit sozinha registrou US$ 2,1 bilhões em liquidações em um período de 24 horas.
Se os números apresentados pela Bybit representarem apenas 25% de suas liquidações reais, as perdas totais do mercado podem ultrapassar a marca dos US$ 10 bilhões.
Kobeissi Letter, empresa especializada em análise financeira, classificou o episódio como possivelmente a maior liquidação da história do mercado cripto.
Mas o que motivou essa queda?
Provavelmente, você já sabe a resposta: guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos, que anunciaram novas tarifas sobre importações da China, Canadá e México. Com isso, não vimos apenas as criptomoedas sangrando, mas o mercado de ações também. A exceção está no ouro, que disparou.
E é claro que esse foi o momento do senhor apocalíptico do Bitcoin brilhar.
Mas será que a guerra tarifária teria toda essa força para derrubar a criptomoeda primária em 10% em apenas dois dias? Será que já não era para o bitcoin ter subido? Será que esse mercado está sendo manipulado?
Bom, vamos aos fatos para entender melhor essa história.
Reação do mercado com pausa na guerra comercial
Após a confirmação de uma pausa de um mês nas tarifas entre Estados Unidos e México, os mercados começaram a se recuperar. O bitcoin, por exemplo, saiu da marca de US$ 93 mil para ser negociado acima de US$ 101 mil. Só que, claro, esse movimento não durou muito tempo e agora, enquanto escrevo esta matéria, dois dias depois dos 100K, estamos vendo o BTC lutar para se manter a US$ 98 mil.
Isso porque nem estou falando de altcoins…
Sentimento de mercado
O meio cripto está tão volátil, mas tão volátil, que, se você estiver lendo este artigo no período da tarde ou da noite, tudo já pode ter mudado. Esse tipo de comportamento faz com que tenhamos um sentimento de “medo” entre os investidores de criptomoedas, conforme observado pelo índice Fear and Greed.
Mas há motivos para todo esse pânico?
Aparentemente, as notícias não são tão ruins para as criptos, principalmente quando o assunto é Estados Unidos e para quem curte a entrada de governos nesse mercado. Para exemplificar, o assessor da Casa Branca para criptomoedas, David Sacks, anunciou um conjunto de medidas para fortalecer a regulamentação da indústria blockchain no país.
Em uma coletiva de imprensa ao lado de senadores, ele defendeu a criação de uma reserva estratégica de Bitcoin, novas diretrizes para stablecoins e maior clareza regulatória, argumentando que a falta de regras bem definidas tem prejudicado a competitividade do país.
Desde que assumiu o cargo no governo Trump, Sacks vinha mantendo uma postura discreta sobre sua atuação. Agora, ele delineou suas prioridades, destacando a necessidade de acabar com restrições bancárias que dificultam a atuação de empresas do meio cripto. Além disso, o político propôs uma nova classificação para NFTs e algumas memecoins, categorizando-os como colecionáveis.
Sacks também anunciou a criação de um grupo de trabalho para ativos digitais, que terá como uma de suas missões estabelecer uma reserva de Bitcoin. Segundo ele, 15 estados já estão avançando nesse sentido.
Outro ponto abordado foi a relação entre empresas cripto e reguladores. Sacks criticou as ações passadas da SEC, alegando que empreendedores eram punidos sem terem diretrizes claras para seguir.
Sobre a regulação de stablecoins, um projeto de lei será tratado como prioridade no 119º Congresso. O presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara, French Hill, afirmou que as novas regras serão incorporadas ao marco FIT21, que enfrenta resistência desde o governo anterior.
Também merece destaque o fato de a SEC estar reduzindo sua equipe de fiscalização de cripto, transferindo mais de 50 advogados e funcionários para diferentes funções.
Não posso deixar de destacar aqui que, embora o dólar continue forte, ele passou por uma leve correção nas últimas 24 horas, o que deveria ser um motivo para o BTC subir, mas não foi bem isso que vimos.
Mais notícias boas:
- A CFTC se propôs a acabar com a regulamentação de criptomoedas por meio da aplicação da lei.
- A empresa de tecnologia de saúde Semler comprou mais 871 BTC.
- As entradas de ETF spot de Bitcoin atingiram US$ 341 milhões, com liderança da BlackRock.
- A taxa de hash do Bitcoin continua aumentando.
Se está tudo tão bom assim, quem está sendo mão de alface?
Não há como negar que as baleias fazem parte desse pacote de vendas. Afinal, conforme observado pela Glassnode, a queda foi atribuída a uma combinação de realização de lucro e um pico repentino em ordens de venda de grandes detentores, que realizaram transações pouco antes da correção do BTC.
Olhando para os detentores de longo prazo, pelo menos por enquanto, eles não carregam essa culpa. Apesar de esses investidores terem transferido mais de 1 milhão de BTC para novos compradores desde novembro, eles ainda retêm uma parcela maior do fornecimento da criptomoeda.
Por outro lado, os detentores de curto prazo, endereços que detêm bitcoin por menos de 155 dias, desde a semana passada, têm abandonado suas posições. Um exemplo disso é que, durante a queda da segunda-feira passada (27), esses investidores transferiram 21.000 BTC, no valor de US$ 2,2 bilhões, para as exchanges e venderam com prejuízo.
A diferença no comportamento desses investidores está em dois fatores: lucratividade e conhecimento de mercado.
Lucratividade
A Glassnode apontou que apenas uma pequena fração do suprimento de detentores de longo prazo se encontra em prejuízo. No entanto, a empresa deixou bem claro que o lucro não realizado desses investidores tem diminuído gradativamente desde novembro.
Enquanto isso, os investidores de curto prazo enfrentaram grandes perdas com a queda do bitcoin. Segundo a Glassnode, no momento em que a cripto foi negociada a US$ 97 mil, a quantidade de ativos em lucro e prejuízo mantida por esses detentores estava equilibrada em 11%, representando a maior exposição a perdas desde o início de janeiro.
Conhecimento de mercado
Aqui, está bem claro que investidores de longo prazo sabem que correções de todas as magnitudes ocorrem nesse meio. Depois de um tempo investindo em bitcoin e altcoins, se você vende a cada queda que as criptos passam, você entendeu esse mercado errado e está na hora de estudar mais.
Agora, investidores que entraram motivados por ETFs, investimentos de governos em BTC e a expectativa de reserva estratégica dos EUA focada em Bitcoin ou em uma cesta de criptomoedas, não tenho muito a dizer, a não ser que você está fazendo tudo errado!
Minha sugestão é: leia o white paper do Bitcoin e entenda a crise de 2008 que levou Satoshi Nakamoto a criar a criptomoeda primária.
Enquanto os investidores ficarem dando voz para centralizadores, eles não poderão reclamar de manipulação. Lembre-se: o Bitcoin foi criado para desafiar o sistema tradicional, não para ser refém dele.
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