Os Estados Unidos (EUA) estão passando por um colapso no turismo em 2025, com uma perda de US$ 12,5 bilhões em receitas apenas nos primeiros meses do ano.
Segundo o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC), o gasto de visitantes no país deve cair para menos de US$ 169 bilhões até dezembro, o que representa uma queda de 7% em relação ao ano anterior e um declínio de 22% em comparação a 2019, último ano de pico na área.
Entre 184 economias analisadas em parceria com a Oxford Economics, os EUA são o único país que está registrando perdas no turismo em 2025. Para Julia Simpson, presidente e CEO do WTTC, “enquanto outros países estão estendendo o tapete vermelho, os Estados Unidos estão levantando uma placa de ‘fechado’ na porta”.
A preocupação é justificada: o setor de viagens e turismo nos EUA movimenta US$ 2,6 trilhões, representa 9% da economia do país, gera US$ 585 bilhões em impostos e sustenta 20 milhões de empregos. Em vez de conter a sangria, a postura isolacionista de Donald Trump e suas propostas de endurecimento nas políticas migratórias estão agravando o problema.
A queda começou após a pandemia de COVID-19, durante o governo de Joe Biden, que manteve restrições de viagens por mais tempo que outros países. A força do dólar também tornou as viagens aos EUA mais caras, afastando visitantes japoneses e europeus.
Percepção internacional piora com Trump
Agora, com Trump de volta à Casa Branca, um novo fator entra em jogo: a mudança na percepção internacional. Segundo Julia Simpson, há uma confusão entre turismo e imigração ilegal.
“É possível ter um sistema sofisticado que equilibre ambos, sem transformar o país numa ilha que ninguém quer visitar”.
Dados de março de 2025 apontam que o número de turistas do Reino Unido caiu 15%, da Alemanha 28%, da Coreia do Sul 15%, e da Espanha, Irlanda e República Dominicana, entre 24% e 33%. Essas regiões estão entre os grupos de visitantes mais valiosos para os EUA.
Nova York lidera prejuízos, mas interior também sente os efeitos
O impacto também é desigual entre locais específicos. Nova York, por exemplo, sofreu um forte golpe. Em 8 de maio, o órgão de turismo da cidade revisou suas previsões e apontou para a perda de 400 mil visitantes em 2025, o que deve resultar em um prejuízo de US$ 4 bilhões.
Apesar do crescimento do turismo doméstico, com 400 mil estadunidenses a mais explorando os cinco distritos, a queda de 800 mil turistas estrangeiros representa prejuízo, já que esses visitantes gastam mais e permanecem por mais tempo. No total, os turistas internacionais representaram metade dos US$ 51 bilhões arrecadados pela cidade em 2024.
No interior do estado, o impacto também é claro. A governadora Kathy Hochul afirmou, em 29 de abril, que na região norte, próxima a Ottawa e Montreal, 66% dos negócios ligados ao turismo relatam queda nas reservas de canadenses, em grande parte devido à retórica agressiva de Trump e suas tarifas. Inclusive, 25% dessas empresas já reduziram o quadro de funcionários para enfrentar a crise.
Aumentar custo do visto pode piorar cenário
No geral, a expectativa é que o turismo nos EUA só volte ao patamar pré-pandemia em 2030 — e isso se não surgirem novos problemas. Um dos pontos mais sensíveis é o programa ESTA, que permite a entrada facilitada de turistas de diversos países.
Atualmente, a taxa é de US$ 21, mas um projeto de lei em andamento no Congresso propõe aumentá-la para US$ 40. Julia Simpson considera a medida um tiro no pé:
“Se os EUA apertarem os botões certos, o turismo pode se recuperar. Mas aumentar o custo do ESTA vai apenas afastar ainda mais os visitantes”.
Com o turismo doméstico já representando 90% do mercado, não há muito espaço para crescer internamente. Enquanto isso, Índia, China e nações do Oriente Médio e da Europa estão modernizando seus sistemas, oferecendo vistos digitais e vantagens para atrair turistas rapidamente. Julia encerrou com um alerta: “São apenas os americanos que estão ficando para trás e perdendo oportunidades”.
Leia mais: Inflação nos EUA cresce abaixo do esperado em abril, mas tarifas seguem no radar do Fed