Quando o preço do bitcoin (BTC) despenca, não é só a cotação que entra em colapso: o psicológico dos investidores também balança.
No meio da tempestade, decisões que parecem lógicas — como vender tudo no fundo ou ignorar sinais de alerta — são, na verdade, respostas irracionais, influenciadas por vieses cognitivos, instintos primitivos e pânico coletivo.
Mas por que isso acontece? A ciência comportamental tem respostas surpreendentes.
🧠 O cérebro não foi feito para mercados voláteis
A primeira armadilha é biológica. O neurocientista Joseph LeDoux, da NYU, mostrou que o cérebro humano responde a perdas financeiras com a mesma região ativada em situações de ameaça física: a amígdala. Ou seja, uma queda de 15% no bitcoin pode gerar reações semelhantes a ver um predador no mato.
Essa reação dispara o “modo sobrevivência”, o que reduz a atividade no córtex pré-frontal — a parte responsável por decisões racionais e planejamento. É por isso que, em momentos de colapso, investidores vendem no pânico ou simplesmente travam.
Estudo: “The Neural Basis of Financial Risk Taking” (Kuhnen & Knutson, Neuron, 2005)
📉 Aversion to Loss: sentimos mais dor ao perder do que prazer ao ganhar
A Teoria da Perspectiva, desenvolvida pelos psicólogos Daniel Kahneman e Amos Tversky, mostrou que perdas têm impacto emocional muito mais forte do que ganhos equivalentes. Ou seja, perder R$ 1.000 em Solana (SOL) dói mais do que ganhar R$ 1.000 com a mesma cripto.
Esse viés — chamado “aversion to loss” — leva o investidor a decisões impulsivas, como encerrar posições lucrativas cedo (por medo de perder) e manter ativos que já caíram bastante (por não querer “realizar o prejuízo”).
Estudo: “Prospect Theory: An Analysis of Decision under Risk” (Kahneman & Tversky, 1979)
🌀 Efeito de manada: se todo mundo está vendendo, por que eu não?
No caos das quedas do bitcoin e demais criptos, a racionalidade coletiva é substituída pelo instinto de rebanho. A psicologia social já mostrou que, em contextos de incerteza, humanos tendem a imitar o comportamento do grupo, mesmo quando sabem que não é o ideal.
Esse fenômeno, conhecido como “herding behavior”, é amplificado nas redes sociais e grupos de Telegram/X. A avalanche de vendas e pânico reforça a ilusão de que “quem segura está errado” — criando um ciclo de feedback negativo.
Estudo: “Herd Behavior and Investment: A Survey” (Spyros Vasilakis, Journal of Economic Surveys, 2017)
🪞Viés de confirmação: buscamos o que queremos ouvir
Durante quedas, muitos investidores se agarram apenas às análises e influenciadores que reforçam a própria crença (“isso é só uma correção, o mercado vai voltar”). Essa tendência de procurar, interpretar e lembrar apenas das informações que confirmam nossas opiniões é chamada de viés de confirmação.
Ela leva à negação de dados objetivos e à exposição prolongada a riscos. Muitos holders de altcoins ignoram fundamentos claros por “fé” no projeto, mesmo diante de sinais de colapso.
Estudo: “Motivated Skepticism in the Evaluation of Political Beliefs” (Taber & Lodge, American Journal of Political Science, 2006)
🪙 Apego ao custo: “já perdi tanto, que agora vou até o fim”
Outro comportamento irracional é o “sunk cost fallacy”, ou falácia do custo irrecuperável. É a tendência de continuar investindo em algo apenas porque já foi colocado dinheiro ou esforço nele — mesmo quando os fundamentos mudaram ou a perda é inevitável.
No mercado cripto, isso explica por que muitos investidores mantêm tokens falidos ou pirâmides, alegando que “não vale a pena sair agora”. É um autoengano que mascara a necessidade de agir com pragmatismo.
Estudo: “Escalation of Commitment in Individual and Group Decision Making” (Staw & Ross, Organizational Behavior and Human Decision Processes, 1987)
Como proteger-se desses erros?
Entender os vieses é o primeiro passo. Estratégias como definir stop-loss racional, seguir planos de alocação pré-definidos e reduzir a exposição emocional (com menos tempo em redes sociais durante quedas) são caminhos para decisões mais racionais.
A irracionalidade é humana. Mas no cripto, ela custa caro.
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