Jennifer, profissional do ramo financeiro, ficou famosa nas redes sociais quando optou por não ceder seu lugar na janela do avião para que uma criança pudesse sentar. Esse ocorrido gerou apoio de praticamente todos os usuários da internet, e ela viralizou (literalmente). Além disso, alcançou a marca de 2 milhões de seguidores em suas redes sociais e comemora atualmente ter recebido R$30 mil em publi.
Eluciana Cardoso, a mulher que realizou a gravação do vídeo, tentou entender por que isso ocorreu:
“Até perguntei se ela tem alguma síndrome, alguma coisa, porque, se a pessoa tem algum problema, uma deficiência, a gente entende. Mas a pessoa não tem nada e não quer trocar do nada!”, comentou Eluciana.
Após a viralização, quando Eluciana percebeu que o “tiro saiu pela culatra”, resolveu apagar o vídeo de todas as redes sociais. Essa decisão foi tomada em conjunto com Mariana Cardoso, que foi a pessoa que, de fato, publicou o vídeo.
Entendendo o caso da Sandra
Com Jennifer, o caso gerou muito barulho nas redes sociais, mobilizou movimentos e até levou marcas a implorarem para que ela fizesse parcerias. Mas, fazendo um paralelo com essa situação, por que a Sandra Regina, mulher que foi sequestrada em São Paulo e ameaçada com uma faca, não viralizou e nem chegou perto do alcance de Jennifer? Apenas convidada para participar do programa Encontro, com a Patrícia Poeta?
Para entender melhor a situação, Sandra tinha acabado de sair do pilates e estava pronta para ir à acupuntura quando o pior aconteceu. Durante o sequestro, a vítima só pensava: “Eu, com tanta coisa para fazer, parada aqui.”O que impressionou a internet foi sua calma e perseverança diante de uma situação tão perigosa.
Hellen Nzinga, CEO e cofundadora da Ecociclo, destaca que a sobrecarga na área empresarial ou pessoal é notável, ao ponto de se sobrepor até mesmo em situações de risco:
“Fica aqui a reflexão sobre a sobrecarga que estamos vivendo, que nos impede até mesmo de sentir o medo de morrer. Inclusive é reflexo do que temos vivido nos últimos meses, especialmente diante da pauta de escala 6×1. Estamos imersas, afundadas em um mundo onde nossas tarefas se sobrepõem ao propósito mais básico da vida: viver. Não temos medo de morrer, mas temos medo de não concluir as nossas atividades” apontou a empresária.
Porque a Sandra não viralizou?
Os brasileiros frequentemente ignoram acontecimentos que transbordam coragem, como o caso de Sandra. Usuários das redes sociais discutem um problema ainda mais profundo: a estrutura racista do Brasil.
Internautas apontam a falta de destaque para Sandra, perguntam por que ela não apareceu no Fantástico e criticam a diferença de visibilidade entre Sandra e Jennifer. Esses questionamentos escancaram como a sociedade prioriza algumas histórias enquanto negligencia outras.
O retrato da priorização fútil no Brasil
A revolta em relação ao caso de Jennifer faz sentido. As pessoas questionam por que o “sim” é mais aceito que o “não”. Todos precisam se priorizar, e, por isso, muitos se identificam com a passageira do avião. No entanto, Sandra realizou um ato heróico. Ela manteve a calma e a serenidade em um momento de tensão e risco à própria vida, algo que todos deveriam valorizar muito mais.
Sandra busca reconhecimento e já expressou publicamente essa necessidade. A sociedade escolhe quem coloca no centro das atenções, e as pessoas têm a responsabilidade de fazer escolhas melhores. Muitos pensadores e pesquisadores brasileiros recebem muito menos visibilidade do que Jennifer. O problema não é Jennifer. A questão central é que os brasileiros precisam aprender a priorizar quem realmente merece destaque por atos de coragem, honra e perseverança.