Shutdown nos EUA pressiona criptomoedas em mês turbulento

Shutdown nos EUA pressiona criptomoedas em mês turbulento
Imagem destaque: Pexels/Nathan Boomhower

Em 8 dos últimos 11 anos, o bitcoin (BTC) encerrou setembro no vermelho, reforçando a percepção de que o período costuma ser turbulento para ativos de risco. 

Em 2014, por exemplo, o recuo do BTC foi de mais de 19%. Em 2019, a queda passou de 13%. Em 2022, mesmo depois da euforia do ciclo anterior, o mercado registrou novo tombo.

Em 2025, o cenário se repete. O BTC e as altcoins acumulam perdas, pressionados pelo temor de um possível shutdown do governo dos Estados Unidos (EUA) e por fatores macroeconômicos que aumentam a aversão ao risco.

🚪 O que é um shutdown?

Nos EUA, o ano fiscal começa em 1º de outubro. Se até essa data o Congresso não aprovar o orçamento federal ou uma medida provisória para manter as contas em dia, o governo “desliga” parcialmente. Esse desligamento é o chamado shutdown.

Na prática, milhares de órgãos federais ficam sem dinheiro para funcionar normalmente. Serviços considerados não essenciais, como parques nacionais, museus, centros de pesquisa financiados pelo governo, emissão de passaportes e programas culturais, são fechados e os funcionários são colocados em licença obrigatória, sem receber salário até que o impasse seja resolvido.

Já os serviços classificados como essenciais, como segurança nacional, hospitais militares, controle de tráfego aéreo, operações policiais federais e inspeções de alimentos, continuam funcionando. Mas os trabalhadores dessas áreas seguem no posto sem receber durante o período de shutdown, com os pagamentos feitos retroativamente apenas depois que o orçamento é aprovado.

🔙 Shutdown de 2013: impasse sobre o Obamacare

Em outubro de 2013, democratas e republicanos travaram uma disputa em torno do financiamento do Affordable Care Act (o Obamacare). O impasse durou 16 dias e resultou na suspensão de milhares de funcionários federais.

Nos mercados, o impacto foi moderado, pois os investidores já estavam acostumados a disputas orçamentárias. O bitcoin estava em plena bull run naquele ano e praticamente não sentiu o efeito. Pelo contrário, seguiu valorizando fortemente, passando de US$ 130 em setembro para mais de US$ 1.000 no fim do ano.

🔙 Shutdown de 2018–2019: o muro de Trump

O episódio mais longo da história aconteceu entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019, quando Donald Trump insistiu em recursos para financiar o muro na fronteira com o México. O impasse durou 35 dias e afetou 800 mil funcionários federais, que ficaram sem pagamento durante o período. Aeroportos enfrentaram filas enormes porque controladores de voo trabalharam sem salário, enquanto outros serviços simplesmente pararam.

Dessa vez, o ambiente econômico era diferente. O bitcoin estava em bear market depois do pico de 2017, e acabou recuando junto com o pessimismo geral dos mercados. A cripto saiu da faixa dos US$ 4.000 em dezembro de 2018 para testar mínimas próximas de US$ 3.400 em janeiro de 2019.

🕰️ O cenário em 2025

O impasse deste ano acontece porque republicanos e democratas não chegam a um acordo sobre prioridades de gasto. 

Um dos pontos é a manutenção dos subsídios de saúde ligados ao Affordable Care Act. Os democratas insistem que o pacote de financiamento precisa ter a extensão desses créditos fiscais, argumentando que, sem isso, milhões de pessoas terão prêmios de seguro mais caros. 

Já os republicanos dizem que os subsídios não devem ser usados como moeda de troca em negociações orçamentárias.

Outro ponto de atrito são os cortes em programas sociais. A ala republicana pressiona por reduções e por limites mais rígidos nos orçamentos considerados “não essenciais”, enquanto os democratas rejeitam esse cenário, dizendo que afetaria diretamente populações vulneráveis. 

A disputa também passa pelo Medicaid. Os democratas querem reverter cortes recentes na assistência médica para famílias de baixa renda, enquanto republicanos afirmam que essas medidas são parte de reformas para conter o gasto federal.

Há ainda a diferença entre aprovar uma resolução “limpa”, defendida pelos republicanos, que mantém o financiamento sem mudanças políticas, ou um pacote com extras, como querem os democratas, que exigem garantias sobre saúde já nesta etapa. 

O problema é que qualquer solução precisa passar pelo Senado, onde são necessários votos bipartidários para superar a obstrução. 

De um lado, os republicanos acusam os democratas de trazer pautas partidárias para travar o processo; de outro, os democratas dizem que não podem abrir mão de políticas sociais em troca de apenas ganhar tempo.

O Departamento do Trabalho informou que dados econômicos fundamentais, como o relatório de emprego, não serão divulgados em caso de shutdown. A Administração Federal de Aviação alertou para o risco de paralisação nos treinamentos de controladores de tráfego aéreo, o que pode afetar aeroportos em todo o país.

Além disso, o Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca ordenou que os órgãos federais preparem planos de demissões temporárias em massa. 

⚖️ Por que isso pesa tanto em cripto

O mercado de criptomoedas costuma ser o primeiro a sentir choques de incerteza. Como é classificado como um ativo de alto risco, ele está no topo da lista de liquidações quando investidores buscam segurança. Em momentos de tensão política ou econômica, a reação imediata é vender cripto para reduzir exposição.

No cenário atual, a combinação entre risco político em Washington e a incerteza sobre a próxima decisão do Federal Reserve cria uma espécie de tempestade perfeita. Setembro já carrega a fama de ser um mês difícil para ativos de risco, e com a ameaça de shutdown, muitos fundos aproveitam para se reposicionar.

🎯 O que estão dizendo os analistas

Casas de análise e bancos internacionais tratam o shutdown como algo provável. Estimativas de plataformas de previsão colocam a chance de paralisação entre 64% e 72%, com as probabilidades subindo à medida que as negociações fracassam. 

O Barclays projeta que, se confirmado, o fechamento do governo deve durar pelo menos cinco dias e gerar atrasos visíveis nas operações federais.

Para o mercado financeiro, o risco é duplo. Por um lado, dados econômicos importantes, como os de emprego e inflação, podem deixar de ser divulgados, dificultando a leitura do cenário pelo Federal Reserve e pelos investidores. Por outro, a falta de informações aumenta a volatilidade nos títulos de curto prazo e em ativos de risco.

Mas o que esperar agora para o bitcoin no curto prazo?

O gráfico diário mostra que o BTC segurou acima da região dos US$ 108 mil, onde encontrou suporte após a correção de setembro. 

A recuperação de curto prazo levou o preço de volta para perto dos US$ 112 mil, mas a tendência de médio prazo ainda mostra topos descendentes desde o pico de agosto, o que aponta cautela dos compradores.

No semanal, o BTC segue em tendência de alta de longo prazo, mas com sinais de perda de fôlego. 

O RSI está em 57 pontos, zona neutra, sem excesso de compra ou venda. Já o MACD começa a mostrar cruzamento para baixo, sugerindo possível enfraquecimento do momentum, ainda que sem confirmação de reversão.

Olhando para os níveis técnicos, a faixa de US$ 108 mil se destaca como suporte imediato. Se perder essa região, a próxima área relevante fica próxima a US$ 100 mil. Do lado de cima, os US$ 116 mil aparecem como resistência chave antes de uma possível tentativa de retomar os US$ 120 mil.

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