Vitalik Buterin levantou um alerta: até sistemas de identidade baseados em zero-knowledge proofs podem enfraquecer a privacidade online. A proposta dele, chamada “identidade pluralística”, busca preservar a pseudonimidade — e mudar o rumo da identidade digital no mundo cripto.
🧱 INTRODUÇÃO — O que está em jogo?
Projetos como o World ID e o ZK-passport estão popularizando um novo modelo de identidade digital baseado em criptografia avançada. Eles usam as chamadas provas de conhecimento zero (ZK) — uma técnica que permite provar que uma informação é verdadeira sem revelar a informação em si.
Na prática, é como entrar em uma festa mostrando que tem idade suficiente, sem dizer quantos anos você tem. Parece a solução perfeita: mais privacidade, menos fraudes, proteção contra bots.
Mas quando essa tecnologia é aplicada para criar um ID único por pessoa, o jogo muda. A mesma ferramenta que promete liberdade pode acabar eliminando a pseudonimidade — e concentrando o poder de rastrear nossas ações. Com tanta tecnologia envolvida, a pergunta que Vitalik Buterin propõe é direta: estamos mais protegidos — ou só mais vigiados?
🔐Privacidade de fachada?
ZK não é escudo mágico contra controle
Ter um único ID digital por pessoa pode parecer inofensivo, mas essa estrutura limita um dos pilares da internet livre: a capacidade de existir sob diferentes identidades. Em plataformas que adotam esse modelo, cada indivíduo só consegue criar uma conta — e tudo o que fizer passa a estar vinculado a ela.
Na prática, isso significa o fim da pseudonimidade. Sem múltiplos perfis, não dá para separar o usuário profissional do anônimo, o criador de conteúdo do crítico político. A consequência é uma identidade digital fixa, que facilita o rastreamento e fragiliza a liberdade de expressão.
Buterin aponta que, mesmo com a proteção das provas ZK, esse modelo nos aproxima de um cenário onde toda ação online pode ser associada a uma única identidade pública. Ou seja, a privacidade continua parecendo garantida — mas, na prática, vira uma fachada.
🕵️ Coerção e rastreamento
Mesmo com criptografia, governos podem te obrigar a se expor
Mesmo que a tecnologia proteja seus dados, ela não te protege de pressões externas. Se a sociedade adotar sistemas únicos de identidade digital, nada impede que governos, empregadores ou plataformas exijam que você revele seu ID para acessar serviços, conseguir um emprego ou cruzar uma fronteira.
Exemplos já existem: ao solicitar visto para alguns países, é comum que autoridades peçam acesso aos perfis de redes sociais. Empresas também começam a pedir contas públicas como parte de processos seletivos, e alguns aplicativos impõem login unificado com outras plataformas como condição de uso.
Buterin destaca que, nesse cenário, o uso de provas ZK perde sua força. Mesmo com a criptografia intacta, o fato de existir apenas um ID por pessoa permite que qualquer exigência legal ou comercial funcione como uma chave-mestra para invadir toda a sua vida digital.
🧩 A proposta de Vitalik
Identidade pluralística: descentralizada, fragmentada e mais humana
Para escapar do risco de uma identidade única e rastreável, Buterin propõe um modelo mais flexível: a identidade pluralística. Em vez de depender de um sistema dominante, esse conceito defende o uso de múltiplas formas de identificação digital, sem que nenhuma tenha o poder absoluto.
Na prática, isso mistura diferentes tipos de credenciais: reputação em redes sociais, conexões em comunidades verificadas (social-graph), carteiras blockchain, NFTs intransferíveis e até sistemas locais de confiança. Cada pessoa pode ter perfis distintos, usados em contextos diferentes, com diferentes graus de exposição.
O resultado é um ambiente mais livre, onde usuários continuam podendo provar que são confiáveis — sem abrir mão da possibilidade de manter perfis separados.
A reflexão de Buterin é direta. Segurança real não vem da padronização total, mas da diversidade de sistemas. Um ecossistema com múltiplas formas de identidade é mais resistente, mais inclusivo — e, acima de tudo, mais humano.
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